Harvey deve ter impacto reduzido sobre seguros

Perdas econômicas no Texas podem chegar a US$ 90 bi, mas parcela pequena deverá ser coberta por apólices, que em geral excluem inundações

O furacão Harvey, que atingiu os Estados Unidos esta semana, deve ter um impacto significativo, mas mitigado sobre a indústria de seguro e resseguro, segundo a agência de avaliação de riscos AM Best.

O governo do Texas, estado americano mais afetado pelo furacão, divulgou estimativa de que serão necessários US$ 125 bilhões em ajuda federal para reconstruir os estragos.

O valor, se confirmado, será superior até mesmo ao dos danos causados pelo furacão Katrina, que devastou New Orleans em 2005.

Já a empresa de modelação de riscos RMS estima que as perdas econômicas ficarão entre US$ 70 bilhões e US$ 90 bilhões, com uma pequena parcela coberta por seguros. A RMS alertou, porém, que a estimativa pode mudar na medida em que fique mais clara a amplitude dos estragos causados.

Por sua vez, cálculos preliminares colocam as perdas seguradas entre US$ 8 bilhões e US$ 20 bilhões, afirma a AM Best em relatório.

Outra agência de análise de risco de crédito, a Standard & Poor’s, acredita que os danos das seguradoras serão praticamente todos absorvidos pelos seguradores primários, com reduzido efeito sobre o resseguro global.

Se for assim, não deve ser suficiente para mudar a tendência do mercado global, que já se beneficiou de um primeiro semestre favorável em termos de perdas catastróficas.

Até a sexta-feira, 1º de setembro, o Harvey, um furacão de categoria 4, já havia sido responsável pela morte de 44 pessoas no Texas e regiões vizinhas.

Especialistas dizem que o furacão causou inundações de um nível que só se espera que ocorram uma vez a cada mil anos na região.

Inundações

A AM Best nota que o volume total de perdas seguradas será relativamente baixo porque as principais causas de danos patrimoniais causados pelo Harvey são as inundações, que não são normalmente cobertas pelas apólices de seguro habitacional nos Estados Unidos.

As coberturas por inundações são mais comuns, porém, nas apólices de seguro empresarial, que também devem ser acionadas para cobrir perdas de lucro cessante com dano físico direto ou indireto.

Mesmo assim, se entre os riscos cobertos não há referência específica às inundações, as coberturas tampouco podem ser acionadas.

Ainda que a indústria dos seguros seja poupada, o estrago causado pelo Harvey deve ser maiúsculo sobre a economia do Texas, em especial sobre Houston, a metrópole mais afetada.

O Centro de Riscos Cambridge divulgou estimativa que, além das grandes perdas sofridas pela cidade em termos de danos patrimoniais, a economia da cidade deve perder US$ 60 bilhões em riqueza como resultado da catástrofe natural.

“Ademais da perda de vidas humanas e a destruição física de propriedades, as inundações vão causar perturbação na economia da cidade, o que por sua vez influenciará a economia da região, com possíveis impactos na economia dos Estados Unidos e a nível internacional”, disse Simon Ruffle, diretor de Inovação e Pesquisa do centro, que é ligado à Universidade de Cambridge.

O prejuízo será causado pelo fechamento de estabelecimentos comerciais, perda de mão-de-obra, cortes de energia elétrica e fornecimento de água, suspensão de tráfico aéreo e marítimo, redução da demanda por parte da população e um possível surto de inflação pós-desastre, afirma o centrol.

Ruffle espera que a economia da cidade volte ao normal dentro de um ano ou dois, uma vez que Houston é qualificada pelo centro como uma economia “altamente resiliente”.

Impacto local

De maneira geral, segundo a AM Best, o impacto do Harvey deve ser assimilado sem grande dificuldade pela indústria de seguros texana, com algum impacto no setor ressegurador global uma vez que as políticas de retenção dos subscritores locais sejam ultrapassadas.

O impacto sobre o resseguro global deve constituir um evento significativo nos resultados trimestrais das resseguradoras, mas sem afetar suas reservas de capital, prevê a AM Best. Segundo a agência, tanto o mercado de Londres quanto o de Bermuda e as grandes resseguradoras globais estão expostos ao furacão.

Parte da exposição se dá através do NFIP, o programa federal de seguros contra as inundações. Mas ainda não está claro a partir de que volume de perdas os danos serão repassados às resseguradoras.

A RMS calcula que a penetração do NFIP em Houston chega a apenas 20% das propriedades. Cerca de 500 mil apólices cobertas pelo programa devem ser afetadas pelo furacão, acredita a empresa.

As seguradoras ativas no Texas podem ver seus resultados abalados, mas ainda parece pouco provável que tenham problemas de solvência como consequência da catástrofe.

As maiores seguradoras empresariais no Texas incluem a CNA, Liberty Mutual, Chubb INA, AIG, Travelers, Zurich, Sompo, Germania, Farmers e Assurant. 

Fonte: Rodrigo Amaral/Risco Seguro Brasil