Pesquisa mostra grau de conhecimento e vantagens das empresas brasileiras sobre a abertura de capital no Brasil

Estudo elaborado pela Deloitte em parceria com o IBRI aponta que 82% das empresas de capital fechado desconhecem processos para a oferta inicial de ações, enquanto 46% das empresas de capital aberto identificaram aumento em seu valor após o IPO

O mercado de capitais é reconhecido como um dos mais atrativos ambientes para a captação de recursos pelas empresas. Essa percepção é confirmada pela opinião de profissionais e gestores empresariais que participaram da pesquisa “Jornada da captação – Transformação financeira na busca de recursos”, desenvolvida pela Deloitte em conjunto com o Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI) e que contou com a participação de 97 empresas (79% de capital fechado e 21% de capital aberto).

Para 47% das empresas de capital aberto participantes, o IPO (initial public offering, ou oferta pública inicial de ações) foi a melhor maneira de captar recursos que estava disponível no momento em que lançaram ações no mercado. Ainda entre as empresas de capital aberto, para 46%, houve aumento do valor da empresa percebido pelos stakeholders após três meses da abertura de capital.

Por outro lado, 82% das empresas de capital fechado afirmam que suas organizações não conhecem – ou conhecem parcialmente – os procedimentos necessários para a realização de um IPO.

“A pesquisa traz a percepção das empresas em relação à oferta inicial de ações e mostra uma maturidade do mercado brasileiro que reconhece um ganho de valor para as companhias de capital aberto proveniente das adequações a regras e normas que elas devem realizar para que passem a ser listadas em Bolsa e que estimulam a governança, compliance e transparência”, afirma Fernando Augusto, sócio-líder da área de Capital Markets da Deloitte.

Auxílio à jornada de captação

A 10ª edição da pesquisa realizada pela Deloitte e pelo IBRI aponta os principais desafios e prioridades para aqueles que querem se preparar para uma oferta inicial de ações, especialmente diante do cenário econômico desafiador que o Brasil enfrenta nos últimos anos.  No caso das companhias já listadas, o objetivo é reforçar o seu posicionamento na captação de recursos no mercado de capitais.

De acordo com o levantamento, realizado entre os meses de abril e maio deste ano, 32% das organizações de capital fechado declararam a intenção de, futuramente, fazer uma oferta inicial em Bolsa. Contudo, considerando as incertezas da conjuntura econômica e política atual, o percentual de empresas que esperam realizá-la de fato nos próximos dois anos é de apenas 6%.

Entre as empresas com capital aberto, 54% declararam que a liquidez de suas ações está abaixo do que se esperava antes do IPO. Metade dos representantes de organizações de capital aberto disse não conhecer os gastos para fechar o capital da organização. O estudo conclui que ter familiaridade com novas práticas contábeis e de auditoria, de gestão e de governança, além do reforço nas estruturas de maior valor aos olhos dos stakeholders e investidores, são essenciais para as empresas de capital aberto manterem sua sustentabilidade.

A lacuna entre os valores atribuídos, por um lado, pela administração e, por outro, pelo mercado é um dos principais desafios a serem administrados pelo profissional de RI. Sessenta e oito por cento dos profissionais entrevistados indicaram existir essa divergência em sua organização, em maior ou menor grau.

As companhias de capital aberto, pela maior visibilidade e pela transparência exigida por estarem no mercado de capitais, colhem frutos positivos nesse sentido: para 46% das empresas, levando-se em consideração a percepção dos stakeholders, houve aumento do valor após três meses de IPO; enquanto que, para 31%, houve manutenção.

Empresas de capital fechado

Representantes da maioria das organizações que atuam no Brasil, as empresas de capital fechado por vezes ainda não têm a estrutura robusta necessária para ir à Bolsa de Valores captar recursos e, em outras oportunidades, temem perder o controle da companhia para pessoas que não são seus fundadores. Contudo, essas organizações apresentam grande potencial para ampliar seu fôlego de captação, uma vez que estruturem suas práticas de controles internos, governança corporativa, gestão de riscos e comunicação com o mercado dentro dos critérios necessários para esse processo.

No levantamento da Deloitte realizado para o IBRI, quase um terço (31%) da amostra de empresas de capital fechado participantes possui faturamento anual superior a R$ 500 milhões. Uma parte relevante (81%) delas possui demonstrações financeiras revisadas por auditoria externa independente. Além disso, 68% das organizações de capital fechado elaboram demonstrações financeiras trimestrais – requisito obrigatório para que uma companhia seja listada na Bolsa.

Contar com uma estrutura de governança e gestão riscos é uma prática de transparência e de controle importante e que transmite confiança ao mercado. Algumas dessas estruturas já foram implantadas pelas empresas de capital fechado com o objetivo de lidar com riscos eminentes em seus mercados de atuação. Para a empresa que deseja lançar ações, práticas como o estabelecimento de conselhos e comitês, bem como a estruturação das áreas de RI e de controles internos, são obrigatórias.

“As organizações que pretendem ter ações listadas em Bolsa têm grandes desafios a suplantar”, diz Edmar Prado Lopes Neto, presidente do Conselho de Administração do IBRI.

Já Diego Barreto, membro do Conselho de Administração do IBRI, diz ser importante “a adoção das melhores práticas de Relações com Investidores, mesmo para as companhias fechadas que pretendem captar recursos no mercado”.

Oitenta e quatro por cento das organizações de capital fechado dispõem de sistemas de controles internos, enquanto mais de dois terços (68%) contam com estrutura de auditoria interna. Quando se chega ao nível dos conselhos fiscais, no entanto, apenas 22% das organizações entrevistadas declararam ter esta instância em sua estrutura, indicando que há práticas de governança mais robustas que ainda precisam ser adotadas para que as organizações possam ter seus papéis negociados no mercado de capitais.

Ainda entre as companhias de capital fechado, somente 18% contam com um profissional dedicado à função de relações com investidores. Vale destacar que, dessa parcela, 73% são empresas que faturam acima de R$ 300 milhões.

Segundo a pesquisa, a conjuntura econômica atual é o fator que mais tem afastado as organizações do mercado de capitais – esse tópico foi lembrado por 79% das empresas fechadas participantes do estudo. Como reflexo do ambiente econômico desafiador, 66% indicaram que o alto investimento necessário a ser feito na estrutura da empresa para prepará-la para a abertura de capital é um empecilho à tomada de decisão nesse sentido.

Empresas de capital aberto

Grupo que – por iniciativa própria, mas também por exigências regulatórias e legais – traduz as mais avançadas e transparentes práticas de gestão, as empresas de capital aberto correspondem a 21% da amostra da pesquisa. Essas companhias já passaram pelo processo de IPO e podem avaliar os ganhos obtidos com essa prática e os desafios para ingressar e se manter nesse universo.

Sessenta por cento das empresas de capital aberto que participaram do estudo possuem um faturamento anual de mais de R$ 1 bilhão. A maioria (54%) identificou que a liquidez do papel da empresa atualmente está abaixo do que esperavam antes da oferta inicial – possivelmente, um impacto das incertezas da economia dos últimos três anos sobre o mercado de capitais, de acordo com o estudo.

Uma em cada quatro companhias de capital aberto respondeu que, caso não estivesse listada, avaliaria realizar um IPO em 2018, mesmo considerando a atual conjuntura econômica. Um quinto dos participantes indicou que avaliaria realizar a oferta a partir de 2019.

Visão do RI

Para identificar os desafios e as perspectivas para a função de relações com investidores, a pesquisa aponta alguns resultados que refletem a visão de uma amostra de 22 profissionais que atuam nessa área. Quarenta e um por cento desse universo é formado por executivos de nível de diretoria.

Frente às atuais incertezas do cenário macroeconômico brasileiro, o foco dos profissionais e departamentos de RI (relações com investidores) das companhias tem se voltado ao valor percebido pelo acionista nacional (mais sensível às intempéries do dia a dia econômico) diante dos investidores estrangeiros (mais voltados às perspectivas de médio e longo prazo).

Melhorar a percepção de valor da empresa para o acionista nacional é, assim, prioridade para 64% dos RIs entrevistados, enquanto que o mesmo esforço em relação aos acionistas estrangeiros é prioritário para 32% desses profissionais.

Movimentos de fusões e aquisições e parcerias também estão no radar do profissional de relações com investidores, reflexo de um momento em que os ativos nacionais estão atrativos aos investidores estrangeiros.

Tendências de vendas e produção também são destaque no monitoramento realizado pelos RIs. O acompanhamento dos resultados operacionais é relevante para que a divulgação das informações ao mercado feitas pelas empresas seja acurada e tenha como base dados de qualidade.

Sobre a pesquisa

Realizada pela Deloitte, entre os meses de abril e maio de 2017, a 10ª edição da Pesquisa IBRI foi aplicada por formulário online respondido por 97 empresas que atuam no Brasil. Dessas, 20 (ou 21% do total) são listadas em Bolsa de Valores e 77 (79%), de capital fechado. Dentre os entrevistados, 22 eram profissionais responsáveis pela área de relações com investidores das empresas participantes.