Demanda aérea global pode levar dois anos para se recuperar, analisa Euler Hermes



Economistas da seguradora de crédito avaliam os impactos da pandemia no setor de transportes

Nas últimas semanas, a equipe de Risco da Euler Hermes vem monitorando de perto as condições da rápida evolução do mercado que impactam praticamente todos os subsetores do setor de transporte no Brasil e no mundo .

O setor de transportes é altamente sensível às flutuações econômicas para transporte de carga ou passageiros. Não diferente dos demais, a queda da atividade econômica provocada pelo avanço da pandemia e o isolamento social por todo o mundo impactou grande parte dos fornecedores de toda a cadeia.

A previsão dos economistas da Euler Hermes é que a demanda aérea global pode levar dois anos para se recuperar do covid-19. Dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) revelaram que globalmente, o transporte aéreo de passageiros no mês de março teve uma queda de 53% em comparação com o mesmo período de 2019. Desde o início de 2020, mais de 4 milhões de voos foram cancelados em todo o mundo e a estimativa é de que a queda da receita das empresas seja superior a 310 bilhões de dólares ao final do ano.

Para o terceiro trimestre de 2020, a expectativa é que a demanda caia 56% e 33% no quarto trimestre. Em relação ao transporte aéreo de carga, a IATA prevê que a queda da demanda em 2020 estará entre 15% e 30% em comparação a 2019.

“A medida em que os governos relaxem as medidas de isolamento e iniciem o processo de abertura de suas fronteiras, a expectativa é que a demanda volte a crescer, mas que a retomada do processo normal perdure por meses”, acredita o diretor de risco da Euler Hermes Brasil, Felipe Tanus .

Cenário brasileiro

Não diferente dos impactos globais provocados pela pandemia, os subsetores de transporte de passageiros (rodoviário e aéreo) foram também altamente sentidos no Brasil. “As companhias aéreas no país se viram frente ao cenário mais desafiador de todos os tempos. Falta de demanda de passageiros, altos custos fixos, pagamentos de leasings e incertezas sobre o futuro”, avalia o diretor.

Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) mostraram que a redução de passageiros no Brasil foi de 33% em março, em comparação ao mesmo período de 2019. Para voos internacionais, a queda foi ainda maior, 42%. A queda abrupta de passageiros nos aeroportos vem provocando uma redução significativa de receita para as concessionárias de aeroportos, além de toda a cadeia de serviços dos aeroportos no Brasil. Para o mês de abril, as cias aéreas brasileiras registraram uma queda média de 90% no número de passageiros transportados, em comparação com 2019.

Setor rodoviário e locadoras de automóveis

O impacto da demanda por passageiros rodoviários para o setor também foi significativo. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) o número de passageiros rodoviários em março caiu 38% e números prévios já mostram que para abril, a queda pode ter sido de 90%. Os transportes para indústrias de linha branca e automóveis foram os mais afetados, com uma queda menor no transporte de cargas para os setores farmacêutico, químico, agronegócio e alimentos.

Outro subsetor de transporte altamente impactado é o de locadoras de automóveis. A queda abrupta por viagens e a adoção de medidas de isolamento social derrubaram a receita das empresas.

Segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla), as locadoras detêm quase 1 milhão de automóveis no Brasil dentre motoristas de aplicativos, frotas de empresas e o público em geral. Cerca de 20% da frota de carros se destina aos motoristas de aplicativos e devido à queda de demanda, esse público já devolveu cerca de 160 mil carros. A queda de demanda por aluguel de carros para o público geral caiu 90% em abril, em comparação com 2019. Cerca de 80% da frota de automóveis das locadoras estão paradas, aguardando novos clientes.

Para Felipe Tanus, a retomada do nível de atividade do setor depende substancialmente da recuperação da atividade econômica e da redução das medidas de isolamento social impostas pelos governos locais. “O avanço do setor vai depender do quanto as pessoas estarão dispostas ou sentem necessidade de se locomoverem ou o quanto o nível de atividade industrial e consumo vai demandar do transporte de cargas”, finaliza .