“O meu, o seu, o nosso problema”, os impactos da pandemia em diferentes esferas do cotidiano

Confira artigo de Alexandre Girardi, Diretor Executivo Financeiro da Sabemi

Antes da pandemia, vigorava um modelo mental que, mesmo de forma inconsciente, separava os problemas: os “meus” e os “seus”. Ao olhar as desigualdades sociais, as disputas étnicas e raciais, as guerras e outras aberrações, aquelas ocorrências, por mais que nos desagradassem, estavam longe da nossa realidade. Torcíamos para que se resolvessem, mas com o sentimento de que não nos diziam respeito.

Podemos fazer a mesma analogia com situações mais próximas do nosso cotidiano, como o elevado número de impactados por acidentes de trânsito ou por doenças que lotam hospitais. Enquanto não estávamos nesta mesma situação, ficávamos apenas na “torcida” para que “alguém” resolvesse isso, com mais hospitais, estrutura ou gestão. Vivíamos próximo do problema, mas ele não nos pertencia. Apenas quando entrávamos nas estatísticas, pensávamos “Algo precisa ser feito” ou “Temos que resolver este problema”.

O novo coronavírus mudou este mindset. O pensar coletivo passou a ser mais importante do que o pensar individual. O seu problema é o meu problema, e o meu problema tem que ser o seu problema. Precisamos resolver juntos. Precisamos estar alinhados nas soluções.

Logo que foram adotadas as primeiras medidas de contenção à Covid-19, cogitava-se que rapidamente teríamos nossa rotina de volta. Com a tomada de consciência, começou-se a enxergar que nossas vidas não serão mais as mesmas. Tanto confio que superaremos o vírus, quanto reconheço que o mundo será outro.

Precisamos nos preparar para essa nova vida avaliando as mudanças que devem ocorrer sob cinco prismas, entre o trabalho e a saúde:

Trabalho

Estamos convivendo com o Home Office (HO) e, transitando entre videoconferências diárias, viramos multichannel (celular, e-mail, whatsapp, Teams, Zoom…). A tecnologia encurtou distâncias e substituiu apertos de mãos e cafés pessoais. O palco das decisões mudou para a tela das reuniões virtuais. Os prazos continuaram a ser estabelecidos e cumpridos. Nossos clientes passaram a ser atendidos com o uso de ferramentas tecnológicas que nos aproximaram deles ainda mais. Chegamos à conclusão de que em muitas atividades tivemos aumento de produtividade e melhoria na qualidade de vida de nossos colaboradores. Ainda assim, perguntas são repetidas:

O HO continuará para algumas categorias profissionais? Continuaremos multicanal? Serão necessárias as mesmas viagens de negócios que fazíamos anteriormente?

Certamente teremos um novo pensar. Para algumas funções, as atividades não voltarão da forma como eram antes da pandemia e poderão continuar em HO. Muitos optarão pelo aumento da produtividade e pela redução de custos (vale transporte, alimentação) e a consequente melhoria na qualidade de vida.

Entre as influências positivas do Home Office, está a tendência maior à pontualidade nas reuniões, até porque complicadores habituais como o do trânsito ou o da própria rotina em escritório coletivo desaparecem. Outro ganho é de foco: nas reuniões virtuais, os participantes se lembram de que têm dois ouvidos e uma boca, exercitam o aprendizado de ouvir, treinar a escuta, e de se expressar.

Estamos mais práticos, objetivos e pragmáticos. Ao mesmo tempo, as empresas precisarão de profissionais mais criativos, que pensem fora da caixa, que achem soluções, que se preocupem mais com a construção de soluções que com os problemas.

Família

Nunca ficamos tanto em convívio familiar como durante a pandemia. Precisamos encontrar nosso espaço dentro de casa, para que a casa não seja somente um lar, e sim um escritório também. Precisamos ajustar horários, conviver com a rotina do lar. Muito teve de ser ajustado, mas com certeza muito tempo se ganhou em nossas vidas. O tempo desperdiçado no trânsito, nos deslocamentos, no horário do rush, foi transformado em tempo para o lazer ou até mesmo em mais horas diárias de trabalho. Muito comum escutarmos que trabalhamos muito mais em HO do que quando estávamos fisicamente em nossas empresas. O distanciamento no convívio familiar diminuiu. Tínhamos a oportunidade de conviver mais como nossos familiares nos períodos de férias ou feriadões, e a pandemia inverteu esta lógica. Os feriados e feriadões foram para ficar em casa, ou até mesmo para continuar em casa.

Como manter esta proximidade depois de tudo voltar ao normal? Como manter este mesmo convívio com nossos familiares? Como conquistar uma qualidade de vida, em equilíbrio com a profissão?

Educação

Em diferentes formatos e modelos, o ensino a distância deixou de ser alternativa para ser a corrente principal de compartilhamento de conhecimento. A multiplicação de lives com palestrantes, muitos deles antes inacessíveis à maioria da população, encurtou as distâncias até palestrantes qualificados.

O EAD também nos deu mais tempo para pesquisas, mais grupos virtuais, e até ajudou os mais tímidos a superarem a vergonha e o medo de falar em público, por imposição do momento.

Indivíduo

Não podemos desconsiderar também os impactos emocionais e seus riscos. O distanciamento dos amigos, a ausência de festas e os casos de depressão são desafiadores. As pessoas em geral se demonstram sob a calamidade mais propícias a ajudar os outros e a valorizar causas sociais. Esse comportamento permanecerá?

Saúde

Os cuidados pessoais com higiene, incluindo máscaras em situações de doenças respiratórias e a utilização de álcool em gel, entre outras recomendações, deixarão de ser emergenciais e serão incorporados à nova rotina?

Perguntas como esta ainda não têm respostas, mas há uma certeza, a de que estamos vivendo uma situação nunca antes vivida. Esse contexto inédito nos dificulta entender o que está acontecendo ou prever o que acontecerá, mas já existe uma mudança substancial na nossa forma de pensar, e temos de aproveitá-la para participar de forma positiva deste novo mundo.

*Alexandre Girardi (Foto/Divulgação) é Diretor Executivo Financeiro da Sabemi.