Flertando com o perigo

Flertando com o perigo

Confira as notícias e análises por Rosa Riscala e Mariana Ciscato, do Bom dia Mercado

… A Delta já é responsável por mais de 80% dos novos casos de covid nos EUA, mas a eficácia das vacinas contra a nova cepa foi considerada “extraordinária” pelo epidemiologista Anthony Fauci, nesta 3ªF. Embora ainda permaneça o receio de que a epidemia possa afetar a recuperação econômica, os mercados em NY venceram o pânico da véspera. No Brasil, os riscos políticos inibiram um voo mais livre, diante das preocupações com a agenda de reformas, ampliadas após o presidente Bolsonaro ter anunciado, no início da noite, que vai vetar o fundão eleitoral de R$ 5,7 bilhões.

… Pressionado por sua base eleitoral e pela exploração do tema na oposição e redes sociais, o presidente agiu contra seus aliados do Centrão, o que sempre é um perigo, já que todo mundo sabe como as coisas funcionam.

… Uma tentativa de negociação do Planalto nos bastidores para reduzir o valor a R$ 4 bilhões foi denunciada pelo mais recente algoz de Bolsonaro, o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos, que o desafiou a “vetar tudo”.

… Mesmo após o tuíte de Bolsonaro informando que vetaria o fundão, Ramos insistiu nas redes sociais: “Vetou e só ou vetou em um acordão para mandar depois ao Congresso uma proposta de R$ 4 bilhões [para o fundo eleitoral]?”

… Apesar do recesso, o barulho não baixa em Brasília, com acusações pipocando de todo lado, de parte a parte.

… Ramos, muito próximo de Lira, está bastante agressivo nas investidas contra o presidente, a ponto de defender em entrevista ao Broadcast Político que, “se a Câmara não colocar limites, Bolsonaro vai marchar sobre a democracia”.

… Horas antes, havia admitido à Folha que estuda a possibilidade de acatar um pedido de impeachment quando estiver no exercício provisório da presidência da Câmara, em eventual substituição de Arthur Lira.

… “Tem duas questões: a primeira é saber se existe o crime de responsabilidade e a segunda, se cabe no exercício provisório da presidência da Câmara acatar ou não um pedido de impeachment. Estou analisando as duas coisas.”

… Por sua vez, Lira insiste no debate do semipresidencialismo e, segundo o Valor, já disse a aliados que considera esta uma alternativa às pressões pela abertura de um processo de impeachment contra o presidente Bolsonaro.

… Para a jornalista Malu Gaspar/Globo, nenhuma autoridade da República tem hoje tanto poder como Lira, não só pela prerrogativa do impeachment, mas por controlar R$ 11 bilhões em emendas parlamentares do Orçamento paralelo.

… Por essas e outras, acredita-se que Lira vai com Bolsonaro “até o talo”, o que não tem nada a ver com lealdade, mas sim com o espaço que ele tem para tirar o que pode e o que não pode do Planalto, enquanto der.

… Outro mau uso do dinheiro público está na manchete de hoje do Estadão: parlamentares estão transferindo recursos das emendas individuais a prefeitos e governadores sem a apresentação de projetos, como um cheque em branco.

… Neste ano, 393 deputados e senadores já usaram o PIX Orçamentário para mandar R$ 1,9 bi a Estados e municípios.

… O mercado vê tudo isso e pensa na lambança que eles estão fazendo com os recursos públicos, e ainda pior, em nome de uma governabilidade que sequer garante as mudanças estruturais que o Brasil tanto precisa fazer.

… Apesar da confiança de Guedes, as incertezas sobre a reforma administrativa e as indefinições sobre a tributária não autorizam o investidor a projetar avanços fiscais consistentes, nem recomendam abandonar a cautela (abaixo).

MAIS CENTRÃO – Bolsonaro cogita mudar o ministro da Casa Civil, nomeando para o lugar do general Ramos o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, um dos grandes expoentes do Centrão, informou Natuza Nery, da GloboNews.

PGR – Nesta 3ªF, o presidente Bolsonaro informou, pelo Twitter, que encaminhou ao Senado mensagem propondo a recondução de Augusto Aras ao cargo de Procurador-Geral da República, ignorando a lista tríplice da categoria.

CAMINHONEIROS – Insatisfeitos com o reajuste dos combustíveis, o fim da isenção do PIS/Cofins sobre o diesel e a falta de fiscalização nas estradas do piso mínimo de frete, eles avaliam uma paralisação a partir de domingo.

… Base eleitoral de Bolsonaro, a categoria não esconde o descontentamento com promessas não cumpridas pelo presidente da República e se queixa que o governo federal não tem chamado para a mesa de negociação.

… Líderes dos caminhoneiros ainda vão se reunir esta semana para decidir se convocam a mobilização.

AGENDA – A Receita confirmou para hoje (11h30) os dados da arrecadação federal de junho, que serão comentados em coletiva, às 12h, pelo chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias.

… Em pesquisa Broadcast, o mercado estima que o Fisco deve ter arrecadado R$ 137,450 bi (mediana), recorde para o mês em termos nominais na série histórica. As apostas vão de R$ 119,800 bilhões a R$ 156,700 bilhões.

… O BC divulga hoje os dados do fluxo cambial semanal (14h), promove oferta até 15 mil contratos de swap tradicional (US$ 750 milhões) para rolagem (11h30) e de até R$ 4 bilhões em compromissadas de três meses (12h).

NOS EUA – O petróleo, que por enquanto só se recuperou parcialmente do colapso da última 2ªF, tem para conferir hoje (11h30) os estoques semanais do DoE, que têm previsão de queda de 1,5 milhão de barris de óleo bruto.

… Ontem à noite, o API contrariou esta expectativa e estimou alta de 806 mil barris nas reservas americanas.

BALANÇOS – Coca-Cola, Johnson & Johnson e Verizon saem antes da abertura e Whirlpool vem depois do fechamento. No after hours, as ações da Netflix subiram 0,6%, apesar da decepção com o lucro por ação (US$ 2,97).

JAPÃO HOJE – A ata do BoJ referente à reunião de política monetária realizada em junho citou as variantes da covid como um dos riscos à economia japonesa e não descartou medidas adicionais de flexibilização, se necessário.

SUOU A CAMISA – Ao contrário de NY, que exibiu muita facilidade para reverter o estresse da 2ªF, os ativos domésticos encontraram maior resistência, despertando a suspeita de que os ruídos políticos continuam pegando por aqui.

… O mercado não vê com tranquilidade a promessa de Bolsonaro de lançar o Bolsa Família de R$ 300, “no mínimo”, e tampouco aliviam os atritos do presidente com o Congresso sobre o fundo eleitoral, que ameaçam a agenda reformista.

… No ambiente de instabilidade, o dólar caiu muito pouco, se comparado ao salto da véspera, e o Ibov teve que brigar para conseguir vencer a linha dos 125 mil pontos, deixando muito clara a dificuldade de cumprir a correção técnica.

… O índice à vista subiu 0,81%, aos 125.401,36 pontos. O giro mais fraco na bolsa, de R$ 24,9 bilhões, causa algum desconforto. Não é bom sinal que o investidor entre vendendo com força, mas que falte apetite na hora de comprar.

… A recuperação do Ibovespa só ganhou mais intensidade à tarde, quando o mercado interpretou que os bancos haviam entrado em bom ponto de compra. Bradesco PN subiu 1,54%, a R$ 24,38, e Itaú, +1,31% (R$ 29,28).

… No day after de seu relatório de produção do 2TRI, considerado “satisfatório” por analistas, Vale subiu 0,84%, para R$ 113,10. O BofA e XP reiteraram a recomendação de compra para as ações da mineradora e o BTG, para os ADRs.

… Amanhã, é a vez de a Petrobras apresentar seu relatório trimestral de produção e vendas.

… Ontem, a estatal (PN, +1,33%, a R$ 26,59, e ON, +1,64%, a R$ 27,29) seguiu à risca o petróleo, que só corrigiu uma pequena parte do tombo perto de 7% da última sessão. Continuam no radar as preocupações com a cepa Delta.

… Além disso, o anúncio recente da Opep+ de aumento da produção em 400 mil bpd a partir de agosto pegou o mercado em um timing complicado, pelos riscos mais acentuados da pandemia à recuperação das economias.

… O Brent para setembro subiu 1,06%, a US$ 69,35, e o WTI do mesmo prazo fechou em alta de 1,28%, a US$ 67,20.

… Mesmo sem a referência do minério de ferro na China (com feriado em Singapura), os papéis das siderúrgicas continuaram se recuperando: CSN ON, +1,07%, Usiminas PNA, +0,52%, e Gerdau PN, +0,41%.

… Beneficiadas pelas dificuldades da China em controlar o mais novo surto de peste suína no país, as ações dos frigoríficos dispararam: JBS ON, +6,69%, Marfrig ON, +4,24%, BRF ON, +1,71%, e Minerva ON, +1,60%.

SOBE MUITO, CAI POUCO – Não deu nem para considerar um alívio a queda de 0,37% do dólar ontem, para R$ 5,2311, bastante inexpressiva, quando comparada à arrancada de mais de 2,5% da moeda na véspera.

… O que se nota é que, no momento de zerar posição vendida, o investidor tem sido muito rápido no gatilho. Mas não tem se sentido à vontade para recomprar o real na mesma velocidade, estabelecendo novo range ao câmbio.

… Nas primeiras horas do pregão desta 3ªF, o dólar chegou a encostar em R$ 5,30 (marcou máxima de R$ 5,2939). Segundo o Broadcast, o pico gerou expectativa de possível intervenção do BC. Mas a provocação não deu certo.

… Mesmo sem a atuação, a pressão diminuiu e, na mínima, a moeda americana voltou para R$ 5,2026. Seja como for, a cautela com Brasília impediu que o dólar devolvesse com mais intensidade o rali do pregão anterior.

… Os juros futuros, que já haviam afundado na véspera (mesmo com a arrancada do dólar), ampliaram a queima de prêmios ontem com o câmbio comportado e o risco desinflacionário antecipado pelo contágio da variante Delta.

… Permanece a percepção na curva do DI de que o Copom possa ser menos agressivo na alta da Selic em agosto (0,75 ponto, ao invés de 1 ponto), dado o risco de desaceleração da atividade econômica e de alívio na inflação.

… As dúvidas sobre as reformas seguiram radar, mas não impediram os juros futuros de continuar caindo.

… O DI jan/22 caiu a 5,760% (de 5,789% na véspera); jan/23 recuou a 7,120% (de 7,203%); jan/24 fechou na mínima de 7,735% (contra 7,841%); jan/25 foi a 8,090% (8,175%); jan/27, 8,560% (8,603%); e jan/29, 8,840% (8,893%).

COMPRAS DE OPORTUNIDADE – NY quis devolver ontem os exageros de pessimismo, apesar de o fator de estresse (Delta) que desencadeou o sell-off em NY na 2ªF ainda continuar ameaçando o apetite por risco do investidor.

… A rigor, nada mudou nas últimas 24h no cenário da pandemia, mas bateu a vontade do investidor de acionar uma correção e partir para uma caça às barganhas, que puxou as ações das aéreas, petrolíferas e dos bancos.

… Após o petróleo ter interrompido o banho de sangue da véspera, Chevron subiu 0,59% e ExxonMobil avançou 1,10%. American Airlines (+8,38%), Delta Airlines (+5,45%) e United Airlines (+6,58%) dispararam na sessão.

… No setor financeiro, JPMorgan subiu 1,86%, Morgan Stanley, +3,31%, Goldman Sachs, +2,85%, e BofA, +2,03%. O Dow Jones ganhou 1,62%, aos 34.511,99 pontos, S&P 500 subiu 1,52% (4.323,06 pts), e Nasdaq, +1,57% (14.498,88).

… Mas o perigo ainda não passou por completo e há grandes chances de volatilidade por conta dos riscos que a variante Delta pode representar ao consumo nos EUA, com efeitos potenciais sobre o PIB americano do 3TRI.

… De qualquer maneira, a pausa na liquidação das bolsas em NY abriu espaço para o investidor se desfazer ontem da proteção dos Treasuries, autorizando o juro da Note de dez anos a voltar para cima de 1,2%, a 1,211%, de 1,196%.

… Sem segurança de que a acomodação nos mercados veio para ficar, o dólar sustentou leve alta contra o iene (109,87/US$), a libra (US$ 1,3631) e o euro (US$ 1,1784), que passa amanhã pelo desafio da reunião do BCE.

EM TEMPO… PETROBRAS informou que recebeu ofício do Ministério de Minas e Energia com as indicações para composição da chapa da União para os cargos de conselheiros, que serão eleitos na próxima AGE (ainda sem data)…

… A novidade foi que a indicação pela União do engenheiro civil Carlos Eduardo Lessa Brandão, sócio da consultoria JFLB, atuando como consultor em governança e sustentabilidade e em educação executiva…

… Foram indicados para recondução o presidente do Conselho da estatal, Eduardo Bacelar; e da empresa, Joaquim Silva e Luna; Ruy Flaks Schneider; Sonia Villalobos; Marcio Andrade Weber; Murilo Marroquim; e Cynthia Silveira.

ELETROBRAS aprovou contratação de operações de crédito de longo prazo por Furnas junto ao Banco da Amazônia, Itaú, Banco do Brasil e Bradesco, no total de até R$ 1,6 bilhão.

CPFL. Fitch manteve nota de longo prazo da companhia e de suas subsidiárias em AAA(bra), com perspectiva estável, após compra da CEEE-T.

NEOENERGIA registrou lucro líquido de R$ 1 bilhão no 2TRI, crescimento de 137% na comparação anual; Ebitda somou R$ 2,3 bilhões, alta de 108% em relação ao mesmo período de 2020.

FOCUS ENERGIA celebrou novo contrato com a Trina Solar para fornecimento de Módulos Fotovoltaicos no âmbito do Projeto Futura 1, em substituição à Risen Energy.

LOJAS RENNER. O Itaú Unibanco elevou para 5,06% participação nas ações ordinárias da companhia.

C&A. Créditos tributários por exclusão do ICMS devem somar R$ 230 milhões.

TENDA comunicou que Itaú Unibanco aumentou para 5,23% sua participação relevante nas ações ON da empresa.

TRISUL. Lançamentos no 2TRI somaram R$ 413,5 milhões em Valor Geral de Vendas (VGV), aumento de 14% em relação ao mesmo período de 2020.

ROMI registrou lucro atribuído aos acionistas controladores de R$ 42,7 milhões no 2TRI, crescimento de 277,5% na comparação anual. A companhia faz teleconferência hoje, às 11h, para comentar os resultados.

CSN CIMENTOS decidiu adiar IPO, mas mantém planos de chegar à bolsa nos próximos meses. (fontes do Broadcast)

PRIVALIA suspendeu IPO, mais uma vez; empresa atribuiu decisão à volatilidade das condições de mercado nos últimos dias.

MULTILASER definiu preço de ação no IPO a R$ 11,10; operação movimentou R$ 1,9 bilhão. (fontes do Broadcast)

GRUPO SOMA levantou R$ 888,3 milhões com follow on; ações tiveram ágio de 18% em relação ao anúncio da oferta, vendidas a R$ 19,20. (fontes do Broadcast)

OI iniciou roadshow para emissão de US$ 800 milhões de bonds de cinco anos. (fontes do Broadcast)

VTEX precificou IPO na Nyse com ação a US$ 19 (dois dólares acima do teto da faixa) e levantou US$ 361 milhões sem lote extra. Com lote extra, a oferta de ações chegou a US$ 415 milhões. (fontes do Broadcast)

MARCOPOLO anunciou lançamento de nova linha de ônibus, batizada de Geração 8. Veículos passaram por mudanças em processo de fabricação que vão permitir redução de custos operacionais e economia de combustível.