Existem fortes argumentos que endossam uma retomada da economia brasileira já para o ano de 2017. As apostas em favor desse argumento se dão mais pela visão de que as coisas vão tão mal que um crescimento no ano seguinte é algo quase que natural.
Endossam esse argumento, por exemplo, o nível da utilização da capacidade instalada que, estando em patamares tão baixos, permitiria em tese uma retomada da atividade econômica de maneira mais brusca, sem a necessidade de aguardar a maturação de investimentos em ativos físicos.
Bem, esse pensamento é parcialmente correto, e isso pode, de fato, ser um dos elementos que ajudarão na melhora incipiente da economia brasileira em 2017 – caso ela ocorra.
Não podemos esquecer que se de um lado joga a capacidade ociosa, a diminuição dos salários e o aumento do hiato do produto, do outro jogam a crise política, deterioração das contas públicas, volatilidade cambial, normalização da política monetária dos Estados Unidos, entre outros.
Não que os elementos do “segundo escalão” sejam a causa da própria crise, mas no Brasil, país imerso em capital externo, desajustes políticos e fiscais têm o poder de criar períodos prolongados de recuo da atividade privada, realimentando a crise que já está posta.
Posto isso, vamos aos fatos.
Setor industrial
O resultado de outubro (+0,5%) foi praticamente o penúltimo suspiro de 2016. A forte queda de agosto mostra, entre outras coisas, que a queda da produção industrial veio para ficar. Os parcos resultados positivos de 2016 conseguiram, até aqui, serem melhores que os de 2015, no entanto, ainda estamos distantes de debelar o problema pelo qual passa a indústria nacional.
Outubro pode ser considerado o penúltimo suspiro porque, em mais de 83% dos anos de 1975 até 2015, os meses de setembro e outubro foram os últimos antes dos menores resultados anuais, ou seja, o último trimestre/bimestre é particularmente baixo para a produção industrial. Os resultados mensal e anual devem se degradar ainda mais em novembro e dezembro.
E por que isso é importante? A degradação do resultado da produção industrial posterga novos investimentos e intensifica a letargia pela qual passa a economia nacional no sentido de recuperar-se. Trocando em miúdos, iniciaremos 2017 com um nível de incerteza bastante elevado e isso será crucial para a nossa recuperação econômica.
Mesmo as indústrias extrativas, que poderiam ser um alento na diminuição da produção industrial, tendem a sofrer com algumas desvalorizações que se abateram neste final de ano, em especial o petróleo.
Caso a OPEC chegue a um acordo na reunião deste mês e opte mesmo por diminuir a produção de petróleo – o que é bastante improvável, como temos destacado em nossos relatórios e podcasts – a indústria extrativa tem pouco poder de geração de empregos e menos ainda de mudar o cenário da produção industrial geral, conforme pode ser visto no gráfico a seguir.
O que pode trazer certo alívio é a desvalorização cambial, uma vez que a demanda interna está significativamente deprimida. Porém, mesmo este mecanismo tem o poder de debelar o próprio ganho de competitividade ocasionado pela diminuição do preço da moeda nacional.
Simplificando: sem estrutura logística adequada, com carga tributária fortemente incidente sobre a produção de mercadorias, sem notável vantagem tecnológica, resta ao Brasil recorrer ao uso da política cambial para aumentar a competitividade da indústria nacional. No entanto, desvalorizações como as que foram vistas na segunda semana do mês de novembro são perniciosas para a indústria, afinal, podem trazer desequilíbrios inflacionários e impedem projeções de longo prazo por parte da iniciativa privada. Enfim, acabam por tolher a capacidade de investimento da iniciativa privada de um lado e força o governo a cortar gastos para fazer frente à depreciação das contas públicas, conjunto nocivo para a economia brasileira.
Setor de Serviços
Com um pouco mais de 62% de participação no PIB total, ou ainda mais relevante quando analisados somente o valor adicionado total, incríveis 69% de participação no PIB total, o setor de serviços é extremamente importante para a economia nacional.
Infelizmente, diferente de outros países, é um setor que não conta majoritariamente com mão de obra qualificada. Os serviços no Brasil são de baixa qualidade e centrados em serviços de baixo valor agregado. Com isso, o setor tem pouca dinâmica e capacidade dinâmica de fazer frente às crises ou de “puxar” a economia em períodos recessivos.
O gráfico a seguir mostra que o modelo de equalização das receitas via aumento de preços está se esgotando. As mais de 12 milhões de pessoas desocupadas, bem como a diminuição da renda média tendem a deprimir o setor de serviços nos próximos trimestres.
O resultado será mitigado, em parte, por conta do advento do final de ano. No entanto, deve apresentar mais resultados negativos nos primeiros meses do ano que vem, fruto da diminuição do produto nacional sobre um setor que está intimamente ligado ao território nacional, diferentemente da indústria e da agropecuária, que têm nas exportações uma importante válvula de escape.
E não poderíamos deixar de falar da agricultura.
O setor, que é o menor dentre os três principais setores da economia brasileira, tem sido muitas vezes o atenuador de algumas quedas do produto, mas em 2016 não foi possível contar com o desempenho do setor para contabilizar um produto positivo ou, no nosso caso, com menor retração.
Do ponto do vista da agricultura, houve uma quebra de safra significativa em 2015, a primeira retração desde 2008/09, queda que deve ser compensada pela safra prevista para 2016/17 (média do limite mínimo e máximo da estimativa da Conab), conforme gráfico abaixo.
O resultado deve ser ajudado ainda por um aumento nos preços das commodities previsto para o ano que vem, porém, apesar de ser de suma importância, o setor tem pouca capacidade de contribuir para uma inflexão na queda do PIB brasileiro.
Os resultados apontam para uma distensão mais ampla da crise do que espera boa parte dos analistas, baseado nos principais relatórios de mercado. O próprio governo cortou a projeção de crescimento para 2017 de 1,7% para 1% após ver os números da indústria e comércio referentes ao mês de setembro.
Os dados abaixo mostram as projeções de variação para o PIB brasileiro para o ano corrente e para 2017. Os mesmos mostram que as revisões para cima no caso de 2017 e para baixo no caso de 2016, estão intimamente ligadas ao processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e, portanto, devem convergir para cenários piores, tanto para 2016 quanto para 2017 à medida que os agentes e o próprio governo entendam a real profundidade da crise brasileira.
Por fim, destacamos o resultado do IBC-Br (proxy do PIB) recém-divulgado pelo Banco Central, que avançou 0,15% referente a setembro de 2016 na comparação mensal com ajustes sazonais, após tombo de -1,01% em agosto, retornando a crescer na margem após duas quedas consecutivas. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o indicador apresentou retração de 3,67%, configurando um recuo superior ao mês anterior (de -2,64%).
Como o gráfico a seguir aponta, o índice registra claramente desde janeiro de 2015 uma queda brusca da atividade econômica. Em 12 meses encerrados em setembro de 2016, o indicador acumulou queda de 5,23%, recuperando marginalmente ante o mês anterior, de -5,48%. Nos nove primeiros meses, de janeiro a setembro deste ano, a queda ante o mesmo período de 2015 foi de 4,8%.
O resultado, por fim, ainda que levemente positivo, coloca mais uma “pedra no sapato” da retomada do crescimento. Temos dito recorrentemente que a mera elevação da confiança não foi – e continuará não sendo – suficiente para resgatar o crescimento no terceiro trimestre, tampouco será no quarto.
O que determina a realização de investimentos, além da taxa de juros, é o retorno do capital frente à demanda agregada futura esperada no momento de realização dos investimentos. E, infelizmente, ainda seguimos com forte tendência de queda na renda dos trabalhadores, que por sua vez contrai a demanda. Simultaneamente, o crédito segue restritivo, postergando a retomada mais intensa da atividade.