Para os executivos reunidos no 6º Encontro de Resseguro, país oferece grandes oportunidades nessa área; secretário do Ministério da Fazenda destaca melhoria do ambiente econômico
Representantes do mercado ressegurador reunidos no 6º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro enxergam boas possibilidades de crescimento no país, dez anos após o fim do monopólio do setor. Eles afirmam, porém, que é necessário reduzir entraves como a excessiva burocracia e a elevada carga tributária que recai sobre as resseguradoras.
O Encontro, promovido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) em parceria com a Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber) e a Escola Nacional de Seguros (ENS), foi encerrado nesta quinta-feira (dia 6).
Segundo o presidente do IRB Brasil Re, Tarcísio Godoy, que falou hoje na plenária “Perspectiva para o Seguro e o Resseguro no Brasil”, só 10% dos prêmios segurados no país são ressegurados. “Há grande espaço para avançar”, disse. “Mas precisamos competir em igualdade de condições com as estrangeiras para transformar o Brasil em polo ressegurador.” Hoje as resseguradoras nacionais pagam 45% de tributos sobre a atividade. “É quase um confisco”, afirmou.
No mesmo painel, o presidente da Transatlantic Reinsurance Company, Javier Vijil, reclamou do custo da atividade no país. “O custo Brasil é significativo. Os resultados são muito baixos, o que torna o mercado brasileiro menos atraente. Os novos donos do capital no exterior exigirão maiores retornos, pelo risco do capital investido”, disse. “É preciso tornar o mercado fácil para que as empresas atuem e baratear o produto para o cliente.” Para ele, porém, o balanço dos dez anos de mercado aberto no Brasil é positivo. “Provavelmente poderia ser melhor, mas foi um passo na direção correta.”
Na véspera, durante a plenária “Resseguro – Dez Anos de Mercado Local – Próximos Passos”, Rodrigo Botti, da Terra Brasis Resseguros, destacou a necessidade de as companhias brasileiras do setor se internacionalizarem, principalmente na América Latina, devido aos riscos de catástrofes naturais nos países próximos, como terremotos e tsunamis. “O Brasil está muito bem posicionado para absorver parte desses riscos, para ajudar nossos vizinhos, oferecendos serviços de resseguro. É uma oportunidade que nós temos, bastante significativa.”
Economia
Em sua palestra na manhã de hoje, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fábio Kanczuk, destacou a melhoria do ambiente econômico no país, em consequência de medidas como a emenda do Teto dos Gastos e as reformas trabalhista e previdenciária.
“O país começou a dar sinais positivos e finalmente está saindo da recessão”, afirmou. “O problema é que nos últimos anos as empresas se alavancaram muito, as famílias se endividaram, e esse processo ainda tem que terminar. Não dá mais para ter crédito subsidiado.” Em relação à Previdência, Kanczuk disse que o governo pretende acabar com “pseudogenerosidades”. “Se conseguir acabar com elas, o sistema se equilibra e tudo melhora. O motivo mais explícito para a reforma é que o país vai quebrar e as pessoas não terão aposentadoria nenhuma.”
Um dos principais entraves ao crescimento, afirmou o secretário, é o tamanho do governo, inflado pelas despesas criadas pela Constituição de 1988. Segundo ele, o gasto federal subiu de 10,8% do PIB, em 1991, para 19,8%, no ano passado. Com a aprovação das reformas, disse, “o governo vai saindo da economia e dando espaço para o setor privado”.
Já em relação ao mercado de seguros e resseguros no Brasil, que hoje representa cerca de 4% do PIB, Kanczuk vê também grande potencial de crescimento. “O seguro é um bem superior, vai crescer bem mais que o PIB.”
Saúde suplementar
No painel “Solução para Transferência de Risco em Saúde”, houve consenso de que é necessário ampliar o mecado de resseguro na área de saúde, sobretudo para atender às pequenas e médias seguradoras, mais suscetíveis a problemas financeiros. Leandro Fonseca, diretor de Normas e Habilitação das Operadoras da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), disse que “o resseguro é uma forma potencial de diminuir esses riscos em operações do mercado”.
“Estamos falando de um negócio de R$ 160 bilhões e com possibilidade muito grande de crescimento”, afirmou Valter Hime, diretor da Sompo Saúde Seguros. Arthur Sanches, responsável pela área de Subscrição de Contratos Automáticos, Vida e Saúde da Terra Brasis Resseguros, explicou que o resseguro funcionaria como uma cobertura extra para amenizar os custos de procedimentos médicos imprevistos. A mediação do painel foi do advogado e consultor Antônio Penteado Mendonça.
Já no painel “Fundos de Pensão e o Impacto D&O”, Fábio Torres, consultor jurídico na área de seguro e resseguro, enfatizou a importância da transparência para a regulação dessa modalidade de cobertura, voltada para administradores de empresas e instituições. Segundo ele, é fundamental que as informações do sinistro sejam especificadas de acordo com a área de atuação da empresa envolvida, de forma a não permitir subjetividades na análise dos casos. “Se não houver transparência, em hipótese alguma pode haver seguro de D&O.” O painel, mediado por Gustavo Galrão, coordenador da subcomissão de Linhas Financeiras da FenSeg, teve ainda a participação de Vinicius Caldas de Lucca Souza, diretor de Financial Lines da JLT Brasil Corretora de Seguros.
No painel “Brexit: Seus Efeitos para o Mercado”, o chefe da Lloyd´s para a América Latina, Daniel Revilla, disse que a saída do Reino Unido da União Europeia não afeta em nada as empresas brasileiras que contratam seguros e resseguros em Londres. De acordo com ele, o Brexit atingirá apenas as relações das resseguradoras britânicas com as companhias europeias, que representam 11% do faturamento da Lloyd´s (contra 45% das empresas norte-americanas). Essas relações, disse, ainda serão acertadas entre a UE e o governo britânico.”Se os objetivos não forem alcançados, mercados como Bermudas e Cingapura vão aproveitar o vazio e abrir escritórios na Europa.”
Futuro
O prejuízo causado pelos ataques cibernéticos no mundo chegam, hoje, à casa dos US$ 90 bilhões por ano, segundo novos dados do Interamerican Development Bank. Na América Latina os dados são preocupantes: 11% de todos os negócios no continente sofreram com ofensivas cibernéticas nos últimos 12 meses. O levantamento, feito pela especialista da TransRe, Kara Owens, palestrante de hoje à tarde no painel “A Evolução do Risco Cibernético e seu Impacto no Seguro”, mostra que o Brasil registrou em 2015 crescimento de quase 200% dos casos de ataques cibernéticos, em relação ao ano anterior. “Há 10 anos não se pensava em dispositivos médicos e TVs sendo hackeados”, comentou. Além das empresas de grande porte, observa-se o crescente interesse das médias e pequenas empresas na contratação de seguros contra riscos cibernéticos.
Também hoje, na plenária “O Futuro das Organizações”, o palestrante Tiago Matos, da empresa Perestroika, enfatizou a necessidade de as companhias se adaptarem à nova era digital, que segundo ele vai substituindo a era industrial. “O mercado digital vai predominar, mas muita gente vai se apegar à era industrial, que é cada vez menor e vai ficar irrelevante.” As mudanças, afirmou, vão afetar totalmente a organização interna das empresas. “Elas têm que entender que não existe um grupo de pessoas que sabe mais e outro que sabe menos. Não pode existir hierarquia. Todos sabem algo e devem trocar conhecimentos.”
No mesmo painel, a subscritora de Responsabilidade Civil da Swiss Re Brasil, Katia Miyaki, disse que os clientes hoje estão 100% conectados e exigem novas formas de contato com a empresa. “Temos que nos adaptar, é uma questão de sobrevivência. O primeiro passo é uma mudança de mentalidade, para entender as novas tecnologias e produzir coisas mais interessantes.”