O transporte terrestre é um importante setor de engrenagem da economia. No Brasil, o vasto território de estrada torna a viagem perigosa e desgastante. O estudo feito pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) é alarmante: apenas 13% das rodovias possuem pavimentação. A possibilidade de acontecer um sinistro, portanto, aumenta exponencialmente.
Além de percorrerem por estradas esburacadas, os motoristas também convivem com o medo da violência. Em 2018, um levantamento realizado pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) registrou 22.183 ocorrências de roubo pelo país, uma queda de 15% em relação ao ano anterior. Com índice de 84,79%, os motoristas que percorrem pela região Sudeste são as maiores vítimas das ações criminosas. “Mesmo a pesquisa apontando uma considerável redução se comparado ao ano de 2017, estamos falando de milhares de roubos em todo o Brasil e isso não é aceitável”, disse José Hélio Fernandes, presidente da NTC&Logística.
O roubo é só uma entre as diversas preocupações das transportadoras e dos motoristas. Ocorrências como capotagem, colisão e tombamento de carga são recorrentes em viagens de longa distância. Diante desse cenário, a seguradora garante o pagamento da indenização, além de atuar como gestora de risco, mitigando a possibilidade de sinistros.
Além de cobrir os prejuízos que a transportadora teria, as seguradoras tentam reduzir a quantidade de sinistros. “As companhias de seguros se esforçam para minimizar os prejuízos junto aos transportadores rodoviários”, explica Mariana Miranda, gerente de Subscrição da Argo Seguros. Segundo ela, o risco bem gerenciado afasta as quadrilhas especializadas e os desvios, mas não elimina os roubos de oportunidade. “Por esse motivo, cada empresa tem um tratamento e recomendações aderentes a sua operação”, completa.
Greve dos caminhoneiros
Em maio de 2018 aconteceu a maior paralisação de caminhoneiros autônomos da história. Enquanto os grevistas protestavam contra o aumento do combustível, os consumidores encontravam as prateleiras dos supermercados vazias devido a falta de reposição. Na ocasião, a indústria, o comércio e a agricultura indicaram perdas de R$ 50 bilhões, segundo o levantamento de diferentes setores econômicos. Diante do cenário, o mercado segurador se posicionou por meio da Federação Nacional de Seguros Gerais – FenSeg – que divulgou, à época, uma nota explicando quais as coberturas de seguros disponíveis para evento dessa natureza.
O desgaste econômico oriundo da paralisação escancarou a importância do transporte terrestre na vida das pessoas. A greve alertou, inclusive, as transportadoras que não possuem contratos de seguro. Ainda de acordo com a FenSeg, a perspectiva de crescimento no seguro de transporte neste ano é de 12%. Estima-se que o volume de prêmios será de R$ 3 bilhões, contra R$ 2,7 bilhões de 2018.
Comercialização do seguro
Hailton Costa, corretor de seguros e diretor de comunicação do Sindicato dos Corretores de Seguros de Goiás (Sincor-GO), avalia que a comercialização dessa carteira é complexa. “Esse não é um seguro que se contrata pela internet. A presença de um corretor perito no assunto é fundamental”. A intermediação do consultor, segundo Costa, é necessária porque vai assessorar o cliente na busca de uma seguradora que possa aceitar e mitigar o risco. O especialista alerta, ainda, que um seguro mal contratado não resolverá o problema do cliente. “Seguro é como vinho. Se ele for escolhido pelo preço, fatalmente o consumidor terá dor de cabeça”.
Para analisar o risco, alguns itens são levados em conta pela seguradora:
- Origem e destino
- Tipo de mercadoria
- Valor das cargas
- Motorista agregado ou CLT
O desenvolvimento do seguro de transporte no Brasil depende de algumas variáveis, sobretudo as macroeconômicas. Costa analisa que quanto mais a economia crescer, mais haverá demanda dessa carteira. “Esse produto está diretamente ligado à crise financeira. Agora que o país está saindo de uma duradoura recessão, percebemos que a procura pelo seguro cresceu”.
Em 2017, um relatório divulgado pela Federação das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo (FETCESP) comparou o PIB brasileiro com a movimentação de transporte de cargas no Brasil durante sete anos. De acordo com o levantamento, o deslocamento de cargas acompanhou a recessão financeira, principalmente nos anos de 2015 e de 2016, como mostra o gráfico abaixo:
Em concordância com Hailton, Salvatore Lombardi, diretor de Transporte da Argo Seguros, diz que a demanda pela proteção aumentará. “O seguro de transportes apresentou um crescimento expressivo neste ano. Ele poderá superar as expectativas em 2020”, projetou o executivo.
O transporte terrestre e a economia são dependentes. Em momento de recessão econômica, as movimentações nos transportes caem da mesma maneira. Consequentemente, a procura pelo seguro sofre retração, impactando negativamente os negócios do mercado de seguros. Os três ambientes formam uma relação de dependência. Se uma parte for deficiente, comprometerá todo o processo das demais.
Por: Sergio Vitor