Demanda por investimentos “conscientes” aumenta e fundos de impacto podem ser a alternativa

Casa de análises Capital Research analisa cenário e recomenda fundos de investimento que aliam rentabilidade a impacto social

Há muito já se fala sobre o chamado “green money” no mercado financeiro. Porém, os impactos sociais e econômicos causados pela pandemia de Covid-19 aceleraram o processo de conscientização de gestores de fundos e empresas. Refletindo a preocupação de seus clientes, a pressão desses players sobre as autoridades em busca de um desenvolvimento mais sustentável está aumentando.

Desmatamento da Amazônia

Segundo analistas da Capital Research, são as duas cartas recentes endereçadas ao governo brasileiro. Na primeira delas, divulgada há cerca de duas semanas, gestores de 29 fundos que administram cerca de R$ 3,7 trilhões em ativos no Brasil, pediram a retirada de uma proposta que incentivaria o desmatamento na Amazônia. Eles afirmaram que a perda da biodiversidade e as emissões de carbono representam um “risco sistêmico” aos seus portfólios, que o fracasso do Brasil em proteger as florestas pode “obrigá-los a reconsiderar seus investimentos” e que eles não pretendem tolerar condutas que atentem contra os padrões ambientais, sociais e de governança.

Já na segunda carta, divulgada nesta terça-feira (7), é endereçada ao vice-presidente da República e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Hamilton Mourão. Presidentes de 38 empresas, entre elas Itaú, Bradesco, Ambev, Vale, Eletrobras, Marfrig, Cosan, Klabin, Suzano, Shell, Microsoft e WeWork pedem, entre outras coisas, “combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros”, sob risco de “enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país”.

De acordo com o material produzido pela Capital Research e assinado pelo analista Rafael Amaral, especialista em fundos de investimento, destaca a desigualdade econômica do Brasil, agravada pela crise da Covid-19. “Somos a oitava maior economia do mundo. Mas quase metade da riqueza produzida no país está concentrada em apenas 10% da população, nos colocando entre os mais desiguais do planeta. Por conta disso, investimentos financeiros que trazem retorno e ajudam os menos favorecidos tornam-se cada vez mais interessantes”, ressalta Amaral.

Segundo o material, este tipo de investimento busca retornos competitivos, quando comparados a outras oportunidades no mercado, ou a preservação de capital e também podem ser feitos em diferentes classes e geografias. E, segundo dados do Global Impact Investing Network (GIIN), apenas 9% desses fundos obteve retorno abaixo do esperado, enquanto 77% veio em linha com o imaginado e 14% conseguiu superar as expectativas de rentabilidade enquanto também ajudava a sociedade.

Dentre eles, a Capital Research destaca três fundos de impacto principais no relatório:

Equitas Selection Mão Amiga FIC FIA

“Este é um fundo que busca rentabilidade por meio de um portfólio em empresas com fortes fundamentos, que são líderes dos seus respectivos setores de atuação e que buscam gerar valor aos acionistas no longo prazo”, destaca Rafael Amaral. Ele também afirma que a performance estratégica do Selection da Equitas demonstra uma sólida gestão, resultado de uma excelente trajetória desde sua constituição, em setembro de 2010.

Quanto à rentabilidade e volatilidade do fundo, o analista da Capital Research indicar que “o fundo master teve um retorno anualizado, desde seu início, de 18,96%, com uma volatilidade anualizada de 22,43%. A título de comparação, nesse mesmo período, o retorno anualizado do Ibovespa foi de 4,24% com uma volatilidade de 25,58% ao ano”, ressalta Amaral.

Já no que diz respeito ao impacto social que o fundo promove, o especialista lembra que “a Equitas contribui para a educação de centenas de crianças e adolescentes com a destinação de 100% de sua remuneração advinda das taxas de administração e de performance ao Colégio Mão Amiga, organização de sociedade civil que tem como missão quebrar o ciclo da pobreza por meio da educação de qualidade.”

SulAmérica Total Impacto FIA

Para Rafael Amaral, este “é um fundo que busca rentabilidade por meio de uma carteira formada por uma seleção de empresas que têm compromisso com questões ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG, na sigla em inglês), bem como consistentes indicadores financeiros, a fim de construir um portfólio que entregue retorno consistente a seus investidores.”

Segundo o relatório, desde sua constituição, o fundo teve um retorno anualizado de 19,02%, com uma volatilidade anualizada de 26,00%. Nesse mesmo período, o retorno anualizado do Ibovespa foi de 11,64% com uma volatilidade de 29,52% ao ano. Além disso, “toda a remuneração decorrente da taxa de administração do fundo é destinada à ONG Vagalume, que tem como objetivo construir bibliotecas na Amazônia para incentivar a leitura na primeira infância”, destaca o especialista.

VRB FIM

Já o VRB FIM é um fundo que investe em outros fundos. Sua política de investimento consiste em comprar cotas de outros fundos, além de capturar tendências macroeconômicas por meio da seleção de gestores de destaque em suas respectivas estratégias. O material disponível gratuitamente no site da Capital Research revela que atualmente, ele é formado por diretores de grandes gestoras de fortunas como Turim Family Office, Brazil Warrant, XP Advisory, UBS Consenso e Tera Capital.

“Desde sua constituição, o fundo teve um retorno anualizado de 9,94%, enquanto o CDI teve um retorno de 7,73%”, analisa Rafael Amaral. Além disso, por meio do repasse de aproximadamente 55% de sua taxa de administração, o VRB direciona recursos a projetos com capacidade de gerar impacto e potencial de gerar escala. De acordo com a VRB, o valor estimado de doações às ações beneficentes nos próximos 10 anos é de R$ 35 milhões. Atualmente, a empresa apoia cinco organizações localizadas no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do país.