Confira o artigo escrito por Charles Lopes, sócio-diretor da B2Saúde Consultoria
Um dos maiores desafios em 2021 é encontrar um denominador comum para os crescentes custos na área de saúde. Não podemos perder qualidade, nem tão pouco os benefícios trazidos pela Lei 9656/98, que regulamentou os planos de saúde. Mas o modelo atual precisa ser revisto, com um olhar que não pareça uma punição, mas sim algo conciliador.
Hoje os órgão de defesa do consumidor são os principais aliados dos usuários e podemos dizer que não têm a visão de que saúde ser “um direto de todos e dever do Estado” é uma prerrogativa do SUS, não das operadoras, que são empresas privadas. O aumento das ações na Justiça é outro grande desafio, pois podem tornar os custos da saúde inviáveis.
Quando falamos em COVID-19 o problema é ainda maior, porque, por determinação da ANS as coberturas de urgências e emergências foram estendidas até mesmo aos usuários em carência. Outro desafio foi a suspensão das cirurgias eletivas. Houve uma redução drástica nas demandas durante o ano passado, pois os usuários ficaram com medo de ir aos locais de atendimento. Muitos pequenos hospitais praticamente quebraram e os grandes reduziram muito suas receitas.
Precisamos mudar a cultura de que saúde é de graça. Se as empresas pagam, se nós pagamos e se o governo paga, então, não é de graça. O aumento de custos ficará impossível de ser absorvido e já estamos vendo isto ocorrer no presente. Em 2018 tínhamos 51 milhões de beneficiários na saúde suplementar e complementar, hoje o mercado tem 47 milhões. Perdemos quatro milhões de pessoas que passaram a procurar o SUS – que também não tem no momento condições de absorver esses usuários de forma satisfatória.
Neste cenário estão surgindo dezenas de novas tecnologias que vieram para ficar e serem cada vez mais desenvolvidas, como a telemedicina, o telemonitoramento e o telediagnóstico. São oportunidades de tornar a relação médico-paciente mais ágil, assertiva e, por que não, mais humanizada.
Também estamos presenciando o surgimento das healthtechs, startups que desenvolvem soluções com foco no setor de saúde, com forte base tecnológica, promovendo serviços e produtos escaláveis e replicáveis. O que é desenvolvido tem o objetivo de impactar milhares de pessoas, podendo inclusive ganhar proporções mundiais. As healthtechs no Brasil e no mundo, inclusive, foram cruciais para dar suporte à população no combate à Covid-19. Outro ponto de extrema importância é a utilização cada vez mais profissional e rápida da inteligência artificial. Os robôs vieram para ficar e auxiliar a saúde.
Novos modelos de operadoras de saúde, as operadoras digitais, surgem no mercado e estão de alguma maneira obrigando os grandes “elefantes brancos” – as grandes seguradoras – a se reinventarem. E isto trará benefícios aos usuários a médio e longo prazo, pois proporcionará uma queda nos custos.
Investimento em treinamentos das equipes, principalmente na nova realidade do apoio psicológico, é outro ponto de observação. As demandas são muitas e as equipes precisam estar preparadas para o acolhimento das famílias, principalmente nos casos mais graves ou nas demandas mais inusitadas.
Todas estas ações têm que ser mapeadas de acordo com os estudos de casos e necessidades que surgem no dia a dia. A cada momento uma nova necessidade aparece e devemos estar atentos. Quando falamos de saúde entendemos que a psicologia é uma demanda antiga, mas que se tornou fundamental em nosso negócio, pois há uma ansiedade em cada ato, em cada ação tomada pelos usuários e neste momento o apoio tem que ser dado por um profissional da área.
A COVID -19 fez com nos reinventássemos. Acreditamos que todos os mapeamentos feitos no passado precisam ser aprimorados nos próximos anos. Hoje o que mais prejudica este mapeamento é a assimetria de informações. Tudo é muito novo e mesmo as demandas antigas estão sendo feitas de outra forma. E se as mudanças não acontecerem de forma efetiva, de dentro pra fora, todas as áreas ligadas a saúde serão afetadas de forma negativa – de usuários a empresas, de profissionais a investidores.
Não se pode ficar parado, pois parados morreremos. E 2021 é um grande desafio, possivelmente maior que 2020. Que possamos vencê-lo – e com saúde!