Comentários são de Marco A. J. Caruso e Lisandra Barbero, que fazem parte do time econômico do Banco Original
Mercados em compasso de espera para os números do mercado de trabalho norte-americano das 09:30, possivelmente o dado mais importante da agenda econômica mensal. Relembrando, vimos uma forte surpresa negativa no mês passado com uma criação líquida de apenas 266 mil vagas por lá (expectativas em torno 1 milhão), em contraste com todos os demais indicadores. Ex post, os analistas relembraram as fricções e limitações na oferta de trabalhadores, o que explicaria esse suposto ponto fora da curva, assim como a aceleração dos salários (outro ponto de atenção na divulgação de hoje tendo em vista as discussões sobre inflação).
De fato, esse ciclo econômico “pós-pandemia” – tanto nos EUA, como em diversas regiões do globo – não segue alguns padrões históricos de recessão/recuperação em diversos sentidos, além de ser bastante heterogêneo entre setores e tamanhos de empresas, e também entre estratos de renda e qualificação dos trabalhadores, o que torna um número já difícil de prever ainda mais trabalhoso. De modo geral, parece-nos natural esperar grandes surpresas nas divulgações de dados econômicos ao redor do mundo.
Nesse ambiente, os ativos não mostram uma direção clara essa manhã. As moedas oscilam muito próximas do zero contra o dólar, enquanto os índices futuros das bolsas têm viés levemente negativo, com exceção das americanas. Maior destaque fica por conta das commodities, majoritariamente no azul exceto as metálicas.
Por aqui, as notícias mais relevantes orbitam sobre as contas públicas. Do lado positivo, os jornais seguem repercutindo os efeitos positivos sobre os números fiscais das revisões de crescimento do PIB para este ano. Já exploramos anteriormente as justificativas e os riscos sobre esse otimismo: é melhor mais que menos PIB, parte-se de um nível mais baixo de dívida/PIB, mas a tendência do endividamento não muda se a postura fiscal não mudar. De qualquer forma, assim como no cenário externo, também nos encontramos em um “interregno benigno” no Brasil.
A maior beneficiada tem sido a nossa moeda, já abaixo de R$ 5,10/US$. Com uma redução do risco fiscal percebido, o real consegue usufruir do cenário de valorização das commodities; ao mesmo tempo, com um banco central prometendo altas de 0,75% da Selic, vemos um “bom diferencial” de juros atuando (nem toda elevação do diferencial de juros é benéfica à moeda se vem acompanhada de elevação do risco país, o que, hoje, não tem sido o caso).
O noticiário econômico dá destaque à possibilidade de que o governo anuncie a prorrogação do auxílio emergencial por mais dois meses como meio de promover uma ponte para o novo Bolsa Família “turbinado”, que, segundo o presidente Jair Bolsonaro em sua live semanal realizada ontem, pode ter seu ticket médio incrementado de 192 reais hoje para algo em torno de 290 reais por mês. Ainda está sendo discutida a fonte de financiamento dessa “ponte” para o aumento do Bolsa Família. Segundo o Estadão, já se discute a possibilidade de que o financiamento seja feito com recursos que estão sobrando dos 44 bilhões de reais ou com recursos excedentes via crédito extraordinário, fora do teto de gastos.
Apesar dos dados fiscais recentemente melhores do que o esperado, qualquer notícia que envolva a projeção de gastos para os próximos anos é de suma importância. Inclusive, segundo O Globo, pelo menos seis estados preparam um programa de ajuste bilionário para entrar no novo Regime de Recuperação Fiscal (RRF), plano de ajuda federal a governos locais em crise que foi reformulado no ano passado e que pode ter duração de até dez anos. Rio de Janeiro, Amapá, Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte tratam do assunto com a Secretaria do Tesouro. Ainda na linha de notícias que envolvam o cenário fiscal, após aprovar o Pronampe na quarta-feira, o governo parece querer um novo programa de crédito a pequenas e médias empresas voltado especialmente para os setores mais afetados pela pandemia, como turismo e entretenimento. A ideia é usar como base o Programa Emergencial de Acesso a Crédito e destinar entre 3 e 4 bilhões de reais ao programa.
Também segue em foco o desenrolar da crise hídrica no país. Embora descarte o risco de apagão e racionamento de energia, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, considera a possibilidade de importar mais energia elétrica e de criar medidas que incentivem (através de descontos na tarifa) o consumo fora dos horários de pico.