Confira o artigo exclusivo para a edição 217 da Revista Seguro Total do executivo Newton Queiroz, Chief Strategy Officer na Kovr Seguradora
Que o mercado mudou e que tecnologia, transformação digital, digitalização e inovação são conceitos que estarão em pauta prioritária por anos, não há dúvida. Ainda mais com a chegada de tantas insurtechs nos mais diversos ambientes de nossa indústria, como mencionei em um artigo recente.
Agora algo que ainda não foi muito explorado é como as novas tecnologias/inovações fora do mundo do seguro podem/irão impactar nossa indústria. As áreas cinzentas ainda são enormes, a ponto de, em algumas situações, não haver um real precedente. Isso leva automaticamente todo o processo para uma esfera teórica que pode perdurar por muito tempo.
Um exemplo atual é o caso da fatalidade envolvendo um carro auto pilotado da Tesla, nos Estados Unidos. Enquanto o governo, a justiça e a empresa travam uma batalha para entender de quem é a responsabilidade pelo acidente, ninguém menciona a vítima e sua família.
Isso nos diz muito sobre o tema. Note que em um país como os Estados Unidos, onde um acidente com perda de vida é tratado rapidamente, e todos os principais cuidados e foco são dados à vítima e família, neste caso o tema é tão complexo que o principal virou segundo plano.
Antes de poder resolver temas de indenização, é necessário entender quem é responsável por um acidente como este. O fabricante do automóvel? A vítima, se uma câmera demonstrar que quebrou uma regra? O dono do automóvel, que estava no banco de trás? A empresa dona do automóvel, que o mandou para buscar alguém e estava vazio no momento do acidente?
E como o tema deve ser tratado pela empresa que efetuava o seguro de vida da vítima? Deve esperar para realmente entender o que aconteceu ou pagar e ter o caso como um acidente de trânsito sem responsabilidade da vítima? De quem devem cobrar a sub-rogação?
Estas são apenas algumas das perguntas que estão sendo discutidas no momento. A realidade é que ninguém tem a resposta e, portanto, a discussão segue em aberto e deverá se manter assim por um tempo considerável.
Importante ter em mente que o veredito final poderá servir de jurisprudência para futuros casos similares; seja para seguir a mesma linha de raciocínio, seja para utilizar parcialmente as respostas obtidas.
Inovação, tecnologia, transformação digital e outros temas, trazem sim muitos benefícios à sociedade; mas não podemos esquecer que as dúvidas e incertezas tendem a ser inúmeras e, por muitas vezes, complexas em diversas esferas, incluindo a da indústria de seguros.
Portanto, na próxima vez que esteja conversando sobre estes temas com um amigo que seja grande entusiasta (como eu, por exemplo), pergunte a respeito de casos como o aqui mencionado. Tenho certeza de que terão uma rica conversa e quem sabe até uma visão que possa trazer luz a algumas das diversas dúvidas que aparecerão em nossa indústria.