Um benefício pandêmico: a consolidação da telemedicina

Um benefício pandêmico: a consolidação da telemedicina

Telemedicina está em alta, com ampla aceitação, e se mostra como uma boa promessa na expansão do acesso aos cuidados de saúde

Sabemi

Mesmo se nenhum outro benefício para a saúde emergir da crise do coronavírus, um avanço – a incorporação da telemedicina na rotina de cuidados médicos – promete ser transformador. Usando tecnologia já existente e dispositivos que a maioria das pessoas possui em casa, a prática médica pela internet pode resultar em diagnósticos e tratamentos mais rápidos, aumentar a eficiência do atendimento e reduzir o estresse do paciente.Sem ter que ir ao consultório, os pacientes podem ter muitas doenças “vistas” em um computador, tablet ou smartphone por um profissional de saúde e ter o tratamento prescrito conforme necessário. “Para pacientes que como eu, não voltam aos consultórios médicos que me deixam esperando muito além do horário agendado, poder ‘ver’ o médico em minha casa, na maioria das vezes, no horário combinado, será mais do que suficiente para tornar a telemedicina prática corriqueira”, afirma a especialista em Marketing Médico, Márcia Wirth.

 

Uma teleconsulta

Fazer uma teleconsulta é como fazer uma videoconferência com o médico, com a tecnologia oferecendo suporte aos cuidados de saúde de uma maneira que ninguém havia pensado. A telemedicina é o presente, mais do que o futuro. Nos primeiros três meses, durante a pandemia, em 2020, a maioria dos pacientes não conseguiu ou não quis ter acesso aos cuidados pessoais dos profissionais de saúde. Mesmo que alguém conseguisse chegar com segurança ao consultório de um médico, quem ficaria sentado em uma sala de espera, próximo a outro paciente, correndo o risco de contrair a Covid-19? Levamos um tempo razoável até estabelecer protocolos seguros para o funcionamento das clínicas. Neste período, com uma conexão à Internet por meio de um computador, tablet ou até mesmo um smartphone, os pacientes puderam mostrar, com segurança, várias partes do corpo ao médico, que pode então recomendar o tratamento ou solicitar um exame complementar, além de emitir receitas e laudos que poderiam ser entregues eletronicamente ou na casa do paciente.

 

O que a telemedidicina não é…

“A telemedicina não é um substituto para a consulta presencial. O atendimento presencial não foi descartado. Mas há alguns pacientes, especialmente os idosos, que gostaram dessa possibilidade aberta pela pandemia e irão adotá-la daqui para a frente! Para esses os benefícios são muitos: conversar com o médico, mostrar uma lesão, acalmar a ansiedade… Se um exame de sangue, um raios-X ou um ultrassom for necessário para complementar o diagnóstico, eles podem ser feitos em casa”, explica Márcia Wirth, estrategista de Marcas Médicas. As faculdades de medicina ensinam que conversar com o paciente oferece 90% das informações das quais o médico necessita para definir um diagnóstico. Os 10% restantes vêm do exame físico e dos exames complementares. “Assim, se o médico conversar com os pacientes por tempo suficiente, eles dirão o que há de errado com eles, e é por isso que a telemedicina pode ser tão útil. O médico pode obter a maior parte das informações de que precisa conversando e ouvindo os pacientes”, defende Márcia Wirth.

 

Como administrar um exame físico virtual

E o grande paradigma da “falta de exame físico” já vem sendo quebrado e vencido com sucesso. Em meio à pandemia de COVID-19, diversos estudos se debruçaram sobre o tema. Dois professores da Escola de Medicina de Stanford criaram um recurso projetado para ajudar os médicos a administrarem exames físicos por meio de vídeos. “Ao invés de pensar que a teleconsulta é limitada pelo exame físico, o caminho é outro. Capacitar os pacientes, instruí-los adequadamente para que eles façam o exame físico com a orientação do médico”, explica Márcia Wirth. No vídeo de instrução de 16 minutos, da Escola de Medicina de Stanford, os pesquisadores ensinam os médicos a conduzirem três autoexames comuns junto com o paciente – o exame de infecção das vias respiratórias superiores, o exame de coluna lombar e o exame de dor no ombro – compartilhando dicas e práticas recomendadas ao longo do caminho. É mais do que uma aula de telemedicina! É uma aula de empatia pelo paciente! Além do material de Stanford, o médico pode ter acesso à riqueza de detalhes sobre o exame físico durante a teleconsulta no artigo The Telehealth Ten: A Guide for a Patient-Assisted Virtual Physical Examination. “A teleconsulta requer que os médicos desenvolvam habilidades para obter informações objetivas por meio das teleconsulta. Ao proporem o Telehealth Ten, que é um exame clínico assistido pelo paciente para ajudar a orientar os médicos neste novo território, avançamos e consolidamos a telemedicina”, explica a especialista em Marketing Médico, Márcia Wirth.

 

Vencendo paradigmas e preconceitos

A telemedicina pode auxiliar o médico a avaliar as condições de vida de um paciente e determinar como elas ajudam ou prejudicam o problema de saúde do paciente. Por exemplo, para quem se levanta durante a noite, talvez várias vezes, existe uma pista de obstáculos entre o quarto e o banheiro que é um acidente esperando para acontecer? Quão seguro é o banheiro para pacientes com mais idade? A telemedicina também pode fornecer acesso médico fácil aos pacientes que vivem em comunidades rurais, a muitos quilômetros de bons serviços de saúde. Para muitos problemas de saúde comuns ou cuidados de acompanhamento, uma consulta ao médico, no consultório, pode não ser necessária. Os pacientes podem ser vistos à distância. Mesmo em áreas onde as pessoas não têm boas conexões de banda larga, podem ser estabelecidos cybercafés locais para telemedicina que permitam que os pacientes se conectem a especialistas, a quilômetros de distância. “Antes da Covid, a telemedicina parecia um luxo, num futuro distante, mas as pessoas agora sabem que esta experiência de saúde, baseada em tecnologia, se tornará o ‘novo normal’. Mesmo sem outros riscos à saúde, a telemedicina pode ser atraente para alguém que prefere evitar o deslocamento e as despesas envolvidas em ir ao consultório médico ou à clínica (estacionamento, combustível, uber)”, explica Márcia Wirth, especialista em Branding Médico.

 

Novas maneiras de comunicação com o paciente

Para os muitos milhões de pacientes com condições de saúde crônicas, um recurso inestimável da telemedicina pode advir do uso de sensores colocados no corpo, através dos quais mudanças potencialmente graves no estado de saúde de um paciente podem ser monitoradas remotamente. E, como um grupo de especialistas em distúrbios neurológicos crônicos observou recentemente no JAMA Neurology, “as opções de monitoramento remoto, ao oferecer informações confiáveis ​​sobre os problemas que mais importam para os pacientes, capacitarão os médicos a fornecer aconselhamento personalizado aos pacientes por meio de videoconferência”. Em estudos de pacientes infectados com o vírus da hepatite C, por exemplo, as respostas ao tratamento administrado por telemedicina foram tão boas ou melhores do que entre os pacientes que receberam tratamento presencial, relataram pesquisadores que estudam a doença hepática crônica. A Covid-19 tornou a telemedicina uma realidade. Para o benefício de todos nós, médicos e pacientes, vamos esperar que essas novas regras se estendam além da pandemia. “Suspeito fortemente que quando o vírus for embora, alguns pacientes que usaram a telemedicina irão preferir a teleconsulta a terem que se deslocar até o consultório médico. Mas é importante destacar que a teleconsulta está engatinhando no Brasil. Converso e capacito médicos a praticá-la todos os dias, tendo sempre em mente que certas condições exigem exame físico diferenciado. E às vezes, é preciso que médico e paciente tenham conversas transformadoras, como defende o editorial do The New England Journal. E isso é mais difícil de fazer via teleconsulta”, afirma Márcia Wirth.

 

Um estranho mundo novo

Tenho recolhido reações distintas sobre a telemedicina dos que já fizeram uma teleconsulta: “estranho”, “insatisfatório”, “inquietante”, “parece que tem algo faltando”, “otimiza o tempo”, “o acompanhante também pode participar”, “economiza gasolina e tempo”, “não deixa nada a desejar”, “uma conversa como a pessoal”. “A pandemia deu aos pacientes um vislumbre de um futuro diferente. Muito deles gostaram muito disso. E como a Covid-19 digitalizou muito rapidamente a medicina, não tivemos tempo de aperfeiçoar a telemedicina ainda. Na lista de lacunas estão temas relevantes ainda sem resposta: melhor treinamento dos médicos para atender online, segurança digital, LGPD, questões sobre privacidade, fraudes e prontuário eletrônico, dentre muitas outras questões legais e sociais, mas podemos solucionar todas essas questões. Vamos solucioná-las!”, defende Márcia Wirth.

 

Treinamento do médico para atender online

A telemedicina está exigindo do médico novas maneiras de se comunicar com os pacientes. É preciso ouvir com atenção, entender as pausas na voz do paciente, para saber quando é a vez de falar e fazer perguntas. É difícil dizer se um paciente acabou de falar ou apenas parou. Há muitos médicos interrompendo os pacientes muito mais do que nas consultas presenciais. É preciso treino para ganhar esse jogo. Nas consultas presenciais, os médicos buscam estabelecer relações de confiança com os pacientes. “A teleconsulta exige mais do profissional! Às vezes, há um atraso ou eco na chamada, que pode ser causado pela má qualidade da Internet. Além disso, é preciso reaprender a ouvir, para saber quando é a sua vez de falar, a diagnosticar erupções na tela, a identificar emoções tanto nas palavras, quanto no tom e nas expressões faciais do paciente. É preciso treino para passar confiança no atendimento online”, explica Márcia Wirth, especialista em Personal Branding Médico. No final de uma consulta presencial, o médico perguntava ao paciente se havia algo a mais que ele pudesse fazer por ele. E antes de abrir a porta, o paciente volta e dizia: “Oh, doutor, mais uma coisa …”, o que muitas vezes acabava sendo a parte mais importante da consulta. “Agora, ao final da teleconsulta, o médico também pergunta ao paciente se há mais alguma coisa que ele possa fazer por ele. Ele diz que não, que está tudo certo, que só queria saber se deveria ir ao pronto-socorro e fica aliviado por não precisar fazer isso. O médico diz que ótimo, que ele fique à vontade para agendar nova teleconsulta se tiver outras perguntas. O paciente se despede, o médico diz adeus. E então há um pouco de tempo de transmissão morta antes que todos encontrem o botão certo para desligar… É preciso tempo e treino para realizar ótimas teleconsultas humanizadas”, defende a especialista em Marketing Médico.

 

Antes, durante e depois

“Pedagogicamente, nos treinamentos que realizo divido a teleconsulta para o médico em antes, durante e depois. Tendo em mente os principais desafios de cada etapa, é mais fácil prosseguir”, diz Márcia Wirth.

Confira algumas das informações da consultora a seguir:

 

ANTES DA TELECONSULTA

  • Planejamento e preparação;
  • Simulações;
  • Teleconsultas compartilhadas com profissionais mais experientes;
  • Compreensão dos passos essenciais para uma teleconsulta: prontuário eletrônico, plataforma de telemedicina, prescrição eletrônica;
  • Critérios de agendamento no seu consultório: paciente, valor, duração;
  • Orientações para pacientes (envio de vídeo com 40 segundos + texto no whatsapp) e secretárias;
  • Sigilo, LGPD (plataforma própria integrada ao PEP, registro em vídeo do início e do fim da consulta, acesso à videoconferência por usuários autorizados, expiração do link após a vídeoconsulta, exibição contínua da imagem do paciente, chat para facilitar a comunicação);
  • Confirmação de horário, como manejar atrasos, cancelamentos e intercorrências;
  • Preparação do equipamento e da sala;
  • Leitura prévia do prontuário antes do atendimento.

DURANTE A TELECONSULTA

Começando:

  • Apresentação cordial;
  • Confirmação de dados completos do paciente;
  • Acordos prévios: digitação no prontuário, tempo de duração;
  • Consentimento oral do paciente para prosseguir;
  • Perguntas abertas (“certo, e o que mais?).

No decorrer da consulta:

  • Explorar a potencialidade da escuta ativa;
  • Observar diferentes itens na impossibilidade do exame físico (maneira de falar, velocidade do discurso do paciente);
  • Utilizar o potencial de dados que o paciente já possui, se aplicável: balança própria, aparelho de pressão, oxímero…;
  • “Agora você será as minhas mãos para examinar o que conseguirmos…”;
  • Na hora do registro em prontuário: “paciente refere que…”, “paciente verifica sinal e relata esse dado”. Registro precisa ser claro e verdadeiro;
  • Descreva, sumarize o que foi percebido como um recurso terapêutico, com empatia: “eu percebo que você fica em silêncio quando falo sobre…”.

Finalizando com Andragogia:

  • Resumir o que foi dito na consulta;
  • Educação em Saúde: fornecer três orientações;
  • Alertar sobre intercorrências, se for o caso.

DEPOIS DA TELECONSULTA

  • Envie mensagem ou vídeo (40 segundos), perguntando se o paciente compreendeu tudo, se já fez a compra da medicação ou agendou o exame indicado e informe que está à disposição para elucidar dúvidas.

 

Caminho sem volta?

“Muitos médicos e serviços de saúde podem querer voltar ‘ao que era antes’, após a pandemia… Mas este esforço será em vão. Sairemos da pandemia sim, mas não seremos mais os mesmos. Neste sentido, é melhor nos aprofundarmos nos estudos que podem determinar a eficiência e os benefícios da telemedicina para planejarmos o futuro”, defende Márcia Wirth, especialista em Marketing Médico.