Aumenta o número de jovens que contratam seguro de vida

Os últimos dois anos, sem dúvidas, mudaram a forma como as pessoas se relacionam com a perda de entes queridos e a forma como enxergam a vida, literalmente. No total, foram 682 mil mortos pelo coronavírus desde o início da pandemia, em 2020, e, dado que parte delas foi repentina, os brasileiros passaram a olhar para o seguro de vida de outra forma.

O receio de deixar a família desamparada financeiramente, sobretudo em um momento no qual o país passa por uma importante crise econômica e intensa alta de preços, resultou em um período de incertezas. Esse é um dos fatores que explicam o motivo da alta na adesão de seguros de vida.

Se antes esse era um recurso usado por pessoas mais velhas e/ou doentes, hoje, o crescimento da busca por ele mudou. O aumento da adesão de seguros de vida foi marcado pela forte presença de jovens entre 18 e 25 anos, um número que cresceu em um ritmo muito maior que as outras faixas etárias.

 

A adesão de jovens ao seguro de vida foi geral entre as companhias

Dados compartilhados pela Rede Lojacorr de Seguros apontam o crescimento da adesão nos seguros de vida para jovens na faixa entre 19 e 24 anos, com um aumento de 112,98% de janeiro a junho de 2022, quando comparado ao mesmo período em 2021.

Já na BB Seguros a busca dessa modalidade de seguro por jovens entre 18 e 25 anos dobrou em 2021, com alta de 119%, quando comparado ao ano de 2020. A faixa etária subsequente de 21 a 25 também recebeu aumento nas buscas e contratações em 103% no mesmo período.

Outra rede de seguros que notou o aumento de jovens entre os segurados foi a Brasilseg. A seguradora afirma que a contratação dos seguros por jovens de até 20 anos cresceu 128% entre 2020 e 2021. A contratação para pessoas de até 25 anos aumentou 36%, e até 30 anos teve um aumento de 25%.

 

A ansiedade e depressão também influenciam nessa decisão

A pandemia de Covid-19 teve um impacto muito forte no Brasil. Boa parte das pessoas perdeu algum conhecido ou familiar durante esse período. Segundo pesquisa feita pelo Conjuve (Conselho Nacional da Juventude), o medo de perder um familiar afeta 75% dos jovens no Brasil. 48% desses jovens temem pela própria saúde e buscam por alguma forma de segurança, caso algo extremo aconteça.

No entanto, em conjunto com as perdas, ela também provocou um aumento significativo no número de pessoas que sofrem com distúrbios mentais, como a depressão e a ansiedade. O periódico científico The Lancet publicou que, ao redor do mundo, 53 milhões de novos casos de depressão e 76 milhões de casos de ansiedade foram registrados apenas em 2020. Dentro do estudo, os cientistas chegaram à conclusão de que o grupo mais afetado são as mulheres jovens entre 18 e 28 anos.

No Brasil, o caso é ainda mais sério. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil lidera o ranking mundial dos ansiosos, sendo considerado o país mais acometido pelo transtorno. Durante o ano de 2021, houve um aumento de 80% nos casos de ansiedade e 90% em casos de depressão, de acordo com dados fornecidos pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Essas informações refletem não apenas o sentimento de insegurança causado pela disseminação da doença, dificuldade das respostas de autoridades competentes e alto número de mortalidade entre os contaminados, como também a situação socioeconômica do Brasil, que, de alguma forma, se interliga à contaminação pelo coronavírus.

Com todo esse cenário em vista, o que a maioria das pessoas procurou fazer foi atender às normas de restrições e distanciamento social. A partir daí, o efeito foi cascata: por ansiedade e insegurança do cenário brasileiro, os jovens buscaram alternativas e outras formas de garantir algum tipo de estabilidade financeira para a família em caso de morte. E ela veio, mostram os dados, concentrada no seguro de vida.

 

Mas o medo também pode ser inspirador

É evidente que o número de segurados cresceu, mas o medo da morte também trouxe algumas mudanças importantes no setor de saúde para os jovens em geral.Devido à pandemia, a sociedade como um todo passou a se preocupar mais com a saúde, e isso é refletido também em uma alta no número de estudantes de medicina. Segundo o Censo de Educação Superior, apenas 10,6% dos estudantes matriculados em cursos de medicina no Brasil estão acima dos 30 anos, se comparado com outros cursos como Direito (26,7%) e Engenharias (23,5%). Ainda segundo o levantamento, a faixa etária de alunos entre 18 e 24 anos corresponde a 66,47% do total de vagas ocupadas.

Uma análise feita pela Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior (ABMES) e pela Educa Insights indica que os cursos superiores voltados para a área da saúde atingiram números recordes durante os 12 primeiros meses de pandemia, principalmente entre cursos EAD – a procura foi 78% maior, em comparação com o ano anterior.

Apenas em 2020, 78.527 novos alunos ingressaram durante o período, chegando à marca de mais de 100.863 estudantes da saúde. Além dos cursos de faculdade de Medicina, se destacam dentro dessa pesquisa os cursos voltados para a área de Farmácia, com um aumento de 416,3%, seguido por Biomedicina, totalizando 190,1%. Logo após, encontra-se o curso de Nutrição, com aumento de 70,5%, e, por último, Enfermagem, que chegou a um aumento de 30,4% no número de matrículas, se comparado ao ano anterior. (Foto: Divulgação istock)