Há quem afirme que o caso ‘Americanas’ pode se transformar na maior crise de gestão de um gigante do setor varejista, com sede no Rio de Janeiro. Com dívidas de R$ 42 bilhões, o grupo entrou nesta quinta-feira, 19, com pedido de recuperação judicial. A Americanas reúne um total de 16.300 credores na sua órbita. Nos bastidores do mercado financeiro, rumores apontavam que o pedido seria negado devido a suspeitas de sérias fraudes contábeis. Contudo, a 4ª Vara Empresarial da capital fluminense acatou a petição e deferiu a RJ.
Especialistas garantem a existência de distorções contábeis nas contas do grupo. “Esse caso apresenta uma falha comum na contabilidade. As despesas financeiras não foram corretamente registradas e apresentadas nos demonstrativos. A empresa toma um empréstimo para pagamento de uma dívida com fornecedor e não registra corretamente o custo financeiro da operação. No caso da Americanas, o que foi noticiado de informação até o momento é de que esse evento teria ocorrido por anos e acumulado um passivo de R$ 20 bilhões”, explica o contador Daniel Ornaghi, diretor-executivo da NTW Maringá.
Coberturas de até R$ 3 bilhões
Os impactos imediatos e diretos na economia após a deflagração da crise bilionária foram sentidos na Bolsa, além de queda abrupta do valor das ações, descrédito no ramo de atuação e danos reputacionais. Há outros impactos igualmente relevantes como o acionamento de apólices de Erros e Omissões (E&O) e de Directors and Officers (D&O). Analistas do mercado garantem que a crise ‘Americanas’ poderá acionar coberturas de até R$ 3 bilhões de apólices de fornecedores.
Não há dúvidas de que a recuperação judicial é o melhor cenário face à catástrofe iminente da decretação de falência do grupo. “Em um processo de RJ, todos saem perdendo. Mas, em teoria, o resultado é melhor do que a falência da empresa. Por todos, eu específico – acionistas atuais, detentores de dívida e muitos dos funcionários e fornecedores. Talvez quem menos se prejudique são os clientes finais, que poderão continuar a serem servidos pela empresa, no cenário de saída da RJ”, reforçou Rodrigo Correa, estrategista chefe e sócio da BRA BS.
Segundo ele, na recuperação judicial é apresentado um plano aos credores que objetiva “recriar uma empresa que tenha um balanço minimamente adequado a operação”. Correa lembre que neste processo admitem-se três providências: aumento de ativos, redução de passivos e repactuação de taxas menores. “Na parte de fornecedores, naturalmente haverá pressão para que cedam condições melhores a empresa ou deixem de ser fornecedores. Por fim, se ainda for necessário, há também o mecanismo de transformação de parte da dívida em novas ações”, advertiu.
A RJ detalha o panorama atual do grupo varejista e reforça o compromisso com os credores. O documento se vale da relação transparente mantida pelas partes até então, o quem, em tese, justificaria o pedido. Segundo uma fonte da Americanas, o grande temor era que houvesse pleitos de antecipação de quitação de dívidas feitos por alguns de seus maiores credores. O retrato da monumental crise se reflete na Bolsa: em 2021, os títulos foram negociados a 104 centavos de dólar, despencando para 10 centavos em janeiro deste ano. Investidores nestes títulos prometem brigar por seus direitos nos tribunais.
Por Carlos Alberto Pacheco