Por Diogo Passos, representante da WIT Wealth
- Quais os principais desafios enfrentados pelas famílias ao planejar a sucessão?
Existe, culturalmente, uma resistência em tratar da sucessão, por envolver a antecipação da própria ausência. À medida que o tempo passa e o patrimônio cresce, a sucessão se torna mais complexa, e aquilo que poderia ser resolvido de forma simples e menos onerosa no início acaba se intensificando, tornando o processo mais delicado e custoso. Entre os principais entraves estão a falta de diálogo familiar, os conflitos de interesse entre herdeiros, a ausência de um inventário patrimonial estruturado e o desconhecimento jurídico.
- Quais ferramentas jurídicas ou financeiras são mais recomendadas para evitar riscos no processo sucessório?
A resposta é, depende do perfil da família, da localização dos ativos e da complexidade patrimonial. Por isso, o mais indicado é contar com o apoio de um time especializado, que será responsável por compreender o contexto, levantar as informações relevantes e propor a estrutura mais adequada para cada caso.
Entre os instrumentos mais utilizados no planejamento sucessório, destacam-se:
- Holding familiar;
- Trusts internacionais;
- Testamento;
- Doação em vida com reserva de usufruto;
- Seguro de vida;
- Fundos exclusivos; e
- Previdência Privada
- Famílias que atuam em setores mais impactados por mudanças econômicas enfrentam desafios específicos na sucessão? Quais?
Sim. Famílias que atuam em setores mais sensíveis às oscilações econômicas enfrentam desafios sucessórios adicionais. Há casos em que membros da própria família, ao administrarem empresas e lidarem com eventos adversos da economia real ou episódios de má gestão, acabaram comprometendo parte relevante do patrimônio. Essa situação, além de fragilizar o legado, gerou disputas entre os herdeiros no momento da distribuição dos recursos.
Entre os principais desafios estão a necessidade de liquidez, a desvalorização dos ativos empresariais e os conflitos entre herdeiros decorrentes da sobreposição entre relações familiares e decisões de gestão.
- Para famílias com ativos no exterior, como é realizado o planejamento sucessório?
O planejamento sucessório para famílias com ativos no exterior é realizado por meio de uma análise criteriosa da jurisdição onde os bens estão localizados, levando em conta as exigências legais, a eventual necessidade de repatriação de recursos e os impactos tributários envolvidos. A partir desse diagnóstico, define-se uma estratégia personalizada, que pode incluir a elaboração de testamentos múltiplos — um no Brasil e outro no país do ativo —, a constituição de trusts, a criação de holdings internacionais (offshore) e, em alguns casos, a realização de doações em vida com reserva de usufruto. Todo o processo deve ser coordenado de forma integrada, respeitando as legislações locais e garantindo segurança jurídica à sucessão.
- Quais são os cuidados que famílias com patrimônio dolarizado devem ter no momento de estruturar a sucessão?
Famílias com patrimônio dolarizado devem ter atenção redobrada ao estruturar a sucessão, pois estão expostas a riscos cambiais e a diferentes regimes legais e tributários fora do país. É fundamental considerar a compatibilidade entre as regras brasileiras e internacionais, especialmente em relação à tributação sobre heranças e à eventual repatriação de recursos.
Entre os principais cuidados estão o alinhamento do planejamento sucessório às jurisdições envolvidas, a gestão da exposição cambial para evitar perdas na transmissão dos bens e a adoção de estruturas que ofereçam segurança jurídica e eficiência tributária aos herdeiros, sobretudo quando residem no Brasil.
- O cenário econômico mais volátil tem antecipado ou adiado decisões de sucessão entre os clientes da gestora?
O cenário econômico mais volátil tem levado à antecipação das decisões sucessórias por parte dos clientes da gestora. A incerteza fiscal no Brasil, especialmente diante de possíveis mudanças nas regras de tributação sobre heranças, doações e investimentos no exterior, tem sido um fator determinante para essa movimentação. Essa incerteza também se refletiu no câmbio, levando muitas famílias a anteciparem decisões sucessórias que, até então, não estavam no radar.
- Em um momento de juros altos e dólar valorizado, há oportunidades estratégicas para reorganizar o patrimônio antes de uma sucessão?
Sim. Em um cenário de juros elevados e dólar valorizado, a precificação de diversos ativos tende a recuar, resultando em valores de mercado mais baixos. Esse contexto pode abrir oportunidades estratégicas para reorganizar o patrimônio antes da sucessão. É possível reavaliar a alocação de ativos, antecipar transferências patrimoniais com menor impacto fiscal e estruturar mecanismos sucessórios que combinem eficiência tributária com preservação patrimonial.
Foto: Diogo Passos, representante da WIT Wealth/Divulgação