- 63% dos entrevistados pretendem gastar menos do que em 2015, que também apresentou este índice de desaceleração;
- Intenção é comprar menos presentes, com média de 4 e queda de quase 10% no valor médio estimado para gastos;
- Diante de um cenário econômico desfavorável, os preços serão o fator essencial para os varejistas atraírem o consumidor.
Em mais um ano afetado pela crise econômica no País, e à espera de uma retomada que possa ser percebida no seu dia a dia, o consumidor brasileiro ainda está cauteloso, e planeja gastar menos do que no ano passado em suas compras do Natal. É o que mostra a sétima edição da Pesquisa de Natal, da Deloitte. O levantamento aponta que 63% dos brasileiros pretendem gastar menos em 2016 em relação ao que foi despendido no ano passado, que também apresentou este índice de desacelaração, o que, consequentemente, revela um sentimento de preocupação do consumidor brasileiro.
Entre os participantes, 41% afirmam que a situação financeira de suas famílias está pior do que em 2015. O dado é negativo, já que, no ano passado, o mesmo percentual de respondentes já dizia que a condição econômica familiar encontrava-se pior do que em 2014. Além disso, de acordo com o levantamento, 60% dos entrevistados afirmam sentirem-se inseguros em relação à estabilidade de emprego.
“Apesar de diversos indicadores econômicos e de confiança do empresariado sinalizarem uma perspectiva mais positiva para 2017, o fato é que as pessoas ainda vivenciam, na prática, os efeitos da queda da renda e o receio de perderem seus empregos. Essa insegurança faz o consumidor ficar naturalmente mais contido. Isso tem reflexo na disposição para comprar, o que deve influenciar os resultados das vendas do varejo”, explica Reynaldo Saad, sócio-líder para a indústria de Bens de Consumo e Produtos Industriais da Deloitte Brasil.
Diante desse comportamento do consumidor, os varejistas devem se preparar e se adaptar para conquistar esse público, com bons preços e produtos de qualidade. “Se o consumidor planeja comprar algo, ele vai buscar onde suas expectativas tenham maior chance de serem atendidas, seja em meio online ou nas lojas físicas. Cada canal tem seus atrativos. A praticidade de poder comprar e levar na hora um produto, assim como a facilidade para trocas, valoriza as lojas físicas. Já o preço mais baixo, a diversidade de mercadorias e a agilidade para comprar estimulam as vendas pela internet. Vai vender mais quem atender melhor às expectativas do comprador neste momento”, avalia Saad.
Menos dinheiro, menos presentes
Os brasileiros que participaram da pesquisa estimam que vão gastar R$ 342 com a compra de até 4 presentes, em média. O valor é 9,5% menor do que a estimativa apurada pela edição 2015 da Pesquisa de Natal da Deloitte, quando o objetivo médio de gastos chegava a R$ 378 para a compra de 5 presentes.
Vale lembrar que, em enquete posterior ao Natal de 2015, realizada pela própria Deloitte, os consumidores disseram ter gasto R$ 422, efetivamente. Tradicionalmente, de acordo com as nossas pesquisas, os brasileiros acabam desembolsando sempre mais do que o previsto nas estimativas com a compra de presentes.
“É interessante perceber que, mesmo pretendendo gastar menos e comprar um número menor de presentes, o brasileiro acaba investindo na qualidade dos itens, já que, na média, pagará R$ 85 por presente. Esse valor foi de R$ 75 do ano passado”, afirma Reynaldo Saad.
“Além do temor em relação à manutenção de seus empregos, a verdade é que o brasileiro está com o bolso um pouco mais vazio neste ano, em razão da queda da renda e dos efeitos da inflação sobre o poder de compra. Esse cenário recente foi determinante para estimular um comportamento mais ponderado neste momento”, diz o executivo da Deloitte.
Entre as razões para justificar a contenção de gastos em 2016, 52% afirmaram que pretendem reduzir suas dívidas e não gastar mais, enquanto que 36% buscam economizar, em vez de gastar. Além disso, a piora na situação financeira da própria família, com acentuada diminuição da renda, é apontada como razão do freio nas compras por 25% das pessoas.
Percepção melhor sobre a economia
Em relação à percepção sobre a situação econômica brasileira, apesar da cautela nas intenções de compra imediata, a pesquisa indicou melhoria em relação ao ano passado. As opiniões continuam negativas em relação ao cenário geral: 44% dos entrevistados consideram que a economia está estagnada, enquanto que 33% a classificam como em declínio. Esses númeross mostram uma relativa melhora na percepção do brasileiro, já que, no ano passado, os que enxergavam a economia em declínio eram 70% dos pesquisados.
A intenção de economizar ou poupar o 13° salário neste ano é manifestada por 31% dos participantes da pesquisa. Outros 18% dos entrevistados dizem que vão quitar dívidas com o pagamento extra. Um quarto dos respondentes pretende gastar o 13° com as compras de Natal, enquanto 23% disseram que nem mesmo terão direito ao benefício. Esses percentuais são similares aos apurados nos levantamentos feitos pela Deloitte em anos anteriores.
Trocando presente por ceia
Em resposta a uma questão de múltiplas escolhas, a maior percentagem de entrevistados (53%) explicitou a intenção de priorizar os gastos com as ceias de Natal e de fim de ano. Já 50% dizem pretender investir mais na compra de roupas, enquanto que 49% vão dar preferência à compra de presentes.
De acordo com Reynaldo Saad, “para o brasileiro, especialmente em épocas de crise, priorizar as atividades relacionadas à convivência em família é uma tendência que ganha força, refletindo uma prática já consolidada em outros países latino-americanos onde o estudo da Deloitte também foi realizado (Argentina, Chile, Colômbia e México) pelo quinto ano consecutivo”.
Cinco fatores para o sucesso do varejista
Cinco fatores serão essenciais para o sucesso de vendas dos varejistas no Natal de 2016, de acordo com avaliações feitas a partir das indicações apuradas na pesquisa: preços baixos; variedade na oferta de produtos; fechar parcerias com o setor manufatureiro, buscando sinergias; garantir a fidelidade do consumidor a seus produtos e marcas; e investir nos serviços que agradam grande parte dos consumidores.
“Certamente, o preço será um fator decisivo para atrair o consumidor. Os varejistas devem estar muito atentos a isso. Acompanhar o que a concorrência está fazendo é, portanto, essencial para o sucesso das vendas”, comenta Saad.
A pesquisa mostra que o brasileiro está pesquisando muito mais antes de comprar, e não se apega mais a um único ambiente de compra, em referência às diferenças entre lojas físicas e online. Desde 2013, a Pesquisa de Natal da Deloitte demonstra que a internet é o canal preferido para compras do brasileiro. Ali, as pessoas estão pesquisando mais sobre preços, qualidade, variedade e disponibilidade dos produtos.
Neste ano, 67% disseram que vão privilegiar compras online, 41% optarão pelos estabelecimentos nos shoppings, 34% recorrerão mais a lojas de departamentos, 26% frequentarão mais o comércio de rua.
Além disso, o executivo alerta os varejistas para as vantagens da multiplicidade de pontos de venda. “Quanto mais vitrines, melhor”, explica o sócio da Deloitte, referindo-se à disponibilidade de lojas físicas e online. “E todos devem estar atentos a uma característica real do neoconsumidor brasileiro: hoje, ele é reconhecido como ‘phygital’. Isso quer dizer que está ambientado a comprar tanto nos estabelecimentos físicos, como nas lojas online”, acrescenta o executivo.
Compras pela Internet estão consolidadas
As compras pela Internet deixaram de ser novidade para o brasileiro, de acordo com a Pesquisa de Natal da Deloitte. Nas últimas edições do estudo, o número de pessoas que afirmava “Eu passei a fazer mais compras pela internet este ano” mantinha um padrão crescente. Agora em 2016, a percentagem de entrevistados que assumiu essa afirmação recuou consideravelmente, para 29%, ante os 51% de 2015.
“A compra online não é mais um ‘novo hábito’ entre os brasileiros, e esse é mais um indicador que reforça a classificação do consumidor de nosso país como um ‘phygital’, que é aquele que compra tanto na Internet, quanto em lojas físicas, onde melhor forem atendidas as suas expectativas”, afirma Reynaldo Saad.
Pouca influência das mídias digitais
Surpreendentemente, 38% dos brasileiros afirmam não serem influenciados pelas redes sociais em suas compras de Natal. No ano passado, esse percentual era de 24%. Porém, e como é natural, os mais jovens (de 18 a 29 anos) são os que reconhecem sofrer mais influência das redes (72%, contra 28% dos que se dizem não influenciados).
Aqueles que utilizam as redes sociais para fortalecer sua decisão de comprar, em resposta a múltiplas possibilidades de escolha, dizem preferir: ler as opiniões ou recomendações sobre produtos ou lojas (61%); aproveitar para pesquisar preços (52%); obter ideias de presentes (42%); e enviar comentários ou compartilhar links sobre lojas e/ou produtos (17%).
Sobre a pesquisa
A “Pesquisa de Natal 2016 – Revelações sobre os hábitos de consumo do brasileiro”, realizada pela Deloitte, foi aplicada a 1.000 entrevistados de todo o Brasil, pela internet, entre os dias 10 e 18 de outubro deste ano, por intermédio do instituto de pesquisas Ibope/Conecta-i.
A pesquisa faz parte de um estudo realizado conjuntamente pela Deloitte em cinco países da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México), com uma amostra total de 3.000 respondentes.
A amostra dos pesquisados é equilibrada na divisão entre gêneros (50% de mulheres, 50% de homens). O maior grupo (47%) é formado por pessoas que têm base salarial mensal entre R$ 2.431 e R$ 6.480; 25% ocupam a faixa de renda até R$ 2.430. Outros 21% têm base salarial situada entre R$ 6.481 e R$ 12.150. Apenas 7% dos entrevistados ocupa a faixa mais elevada de renda, superior a R$ 12.151 mensais.