Alexandre Maluf, economista da XP, comenta a divulgação do IPCA mensal
“O IPCA de abril avançou 0,43%, muito próximo da nossa projeção de 0,44%, mas com mensagens importantes que merecem destaque. Em comparação ao IPCA-15, divulgado há duas semanas, observamos uma aceleração forte nos bens industrializados, que subiram 0,62% no mês, próximo da nossa projeção de 0,65%.
Essa aceleração está relacionada a múltiplos fatores: primeiramente, o reajuste sazonal de vestuário com a entrada de novas coleções, que avançou 1% no mês; em segundo lugar, um ‘payback’ dos descontos oferecidos durante a Semana do Consumidor em março; e, finalmente, o efeito defasado da depreciação cambial observada no último trimestre de 2024, que pressionou os custos dos produtores e agora se manifesta nos preços ao consumidor.
A pressão sobre os bens industrializados deve permanecer em maio, mas esperamos uma moderação ao longo do segundo semestre, beneficiada pela apreciação do câmbio neste ano e pela queda nos preços do petróleo. Também destacamos dentro deste grupo a forte alta em itens de higiene pessoal, como perfumes, e em eletrônicos como computadores pessoais, que subiram 1,2% após retrocederem em março.
A qualitativa para serviços veio pior que o esperado, com avanço de 7,7% para 7,8% nos serviços subjacentes. Este aumento foi impulsionado principalmente pela alimentação fora do domicílio, que tem o maior peso no componente, mas também por serviços pessoais que, apesar de mostrarem alguma moderação, continuam pressionados.
Os núcleos de inflação continuam rodando em torno de 6%, bem acima da meta. Destaco especialmente o núcleo EX3, que contempla industriais subjacentes e serviços subjacentes, mais sensível à política monetária, que está em 6,7%, acima, inclusive, da média dos núcleos.
No grupo alimentação, que veio ligeiramente abaixo da nossa projeção (0,83%), houve moderação maior que o esperado em café e infusões, com destaque para moderação no café, que subiu 4,5%, abaixo do que projetávamos, embora o grupo como um todo ainda mostre pressão significativa.
Outro componente importante foi o reajuste anual dos produtos farmacêuticos, que subiram 2,32% em abril, em linha com nossa projeção de 2,35%. Este aumento já era esperado, pois ocorre todos os anos em abril, mas vale ressaltar que o reajuste deste ano foi menor do que nos anos anteriores, o que é um fator benigno para o IPCA anual.
Para a gasolina, tivemos preços um pouco abaixo do que nossas coletas indicavam, e esperamos algum corte adicional ainda em maio, em linha com a valorização do câmbio e a queda do Brent.
Quanto à nossa projeção para o IPCA de 2025, a reduzimos de 6,0% para 5,7%, refletindo melhora no câmbio e queda do petróleo. Para maio, nossa projeção preliminar é de 0,44%, mas faremos ajustes finos considerando as surpresas do IPCA de abril e as coletas mais recentes.”**
Alexandre Maluf, Economista da XP