O Espaço Cultural Porto Seguro apresenta a exposição Prêmio Brasil Fotografia 2017. A mostra, que este ano contempla 10 artistas e mais de 50 obras, com trabalhos impressos e multimeios, entra em cartaz no dia 17 de agosto, quinta-feira, com visitação gratuita, a partir das 10h.
A homenageada desta edição é a fotógrafa Nair Benedicto, que recebe o Prêmio Especial com o ensaio Índios Molhados. Sua trajetória foi fundamental para o reconhecimento e ampliação do status profissional da fotografia no Brasil, especialmente no fotojornalismo, e desde a década de 1970 se destacou pelo engajamento com questões de cunho social. Nos anos de 1980, Nair foi comissionada pela Unicef para documentar a situação da criança e da mulher na América Latina.
Com curadoria geral do artista visual Cildo Oliveira, este ano o júri foi constituído por Fábio Magalhães, Angélica de Moraes, Rubens Rewald e Evandro Teixeira, e teve cerca de mil inscritos. Definindo como critérios a preocupação com a linguagem e narrativa, qualidade técnica e visual, sensibilidade cromática, dimensão encantatória da arte e criatividade, a comissão de premiação selecionou os vencedores.
O prêmio está em sua 16ª edição e é destinado a fotógrafos brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. A Porto Seguro patrocina a iniciativa desde a sua criação possibilitando um canal de apresentação da produção fotográfica autoral e de incentivo a fotografia, além da formação de um acervo com a produção contemporânea brasileira.
É a segunda vez que os trabalhos serão expostos no Espaço Cultural Porto Seguro. Durante esses 15 anos, já foram premiados mais de 200 fotógrafos, entre eles: Miguel Rio Branco, Rosangela Rennó, J. R. Ripper, Claudio Edinger, Thomaz Farkas, Boris Kossoy e Claudia Andujar. Já se inscreveram, desde 2001, mais de 50 mil pessoas.
O Espaço Cultural Porto Seguro é parte do Complexo Cultural, que abriga em um mesmo quarteirão, o Teatro Porto Seguro, o Gemma Café e o Gemma Restaurante.
Os vencedores da edição
Prêmio Brasil Fotografia Especial: Nair Benedicto, por sua importante reflexão sobre a fotografia. Seu trabalho registra as minorias e a cultura popular, com especial atenção para a participação da mulher na sociedade, além de uma vasta iconografia indígena e de trabalhadores sem-terra. O caráter trágico, o pathos e o profundo engajamento pessoal podem ser destacados como traços recorrentes em suas imagens, que alçaram o fotojornalismo brasileiro a um novo patamar.
Prêmio Brasil Fotografia Ensaio Impresso: Antonio Saggese, pelo ensaio Hiléia, composto por 12 fotos de florestas, tratadas de tal maneira que se assemelham a gravuras dos naturalistas do século XVII. O trabalho não se propõe como ‘fotografia de natureza’, nem como documentação ou denúncia. São fotografias realizadas com um olhar despido da gramática da linguagem fotográfica moderna, prescindindo de recortes espaciais e temporais.
Prêmio Brasil Fotografia Ensaio Multimeios: Gilvan Barreto, pelo trabalho O Guarani. A obra multimeios se apropria de símbolos nacionais, para refletir sobre a violência institucional no Brasil. Neste caso, faz referência especificamente à perda de direitos e violência que os povos indígenas do Brasil vêm sofrendo. Enquanto a vitrola toca uma nova versão do clássico O Guarani, lentamente um líquido vermelho-sangue inunda a radiola e distorce a sonoridade da ópera, adaptada pelo maestro Carlos Gomes em 1870 e que se tornou tema do noticiário radiofônico A voz do Brasil, de difusão obrigatória, criado em 1935.
Prêmio Brasil Fotografia Revelação: Andre Arruda, pelo ensaio Clóvis, com 12 fotos de situações carnavalescas em que as fantasias lembram pierrôs e arlequins, características do subúrbio (principalmente das zonas Norte e Oeste e Baixada Fluminense) do Rio de Janeiro. As vestes, de confecção esmerada, são muito coloridas e obedecem a um rito indumentário, assim como as baianas das escolas de samba. Os Clóvis são hoje, paradoxalmente, um movimento ao mesmo tempo grande e quase marginal. Reflexo da influência da cultura pop, o samba foi trocado pelo funk como trilha sonora das turmas.
Foram concedidos dois Prêmio Bolsa para Desenvolvimento de Projeto. Um deles foi para Adriano Escanhuela, com o projeto Umidus, que desenvolverá uma investigação em algumas cidades, às margens do Rio Tietê, com menos de cem mil habitantes, observando a paisagem, a arquitetura e a vida. Adriano produzirá as imagens por meio de um processo arcaico, do século XIX, em placa úmida de colódio, chamada ambrotipia, que depende da umidade para ser realizado, contrapondo a atual produção digital.
O segundo Prêmio Bolsa para Desenvolvimento de Projeto foi para a Osvaldo Carvalho, pelo projeto Outras Paisagens, cujo objetivo é o levantamento de registros em filmes fotográficos descartados, as pontas de filmes, re-significando um material normalmente, mas de surpreendente capacidade imagética.
Menções Honrosas: foram escolhidos dois trabalhos: o ensaio impresso de André Cunha, pela obra Semeadura, que apresenta um ensaio sobre uma família que vive da agricultura em seu pequeno espaço, alheia às comodidades atuais, produzindo seu próprio sustento (material e espiritual) e calcada em uma vida simples, porém repleta de peculiaridades que podem ser entendidas como reflexos de uma proposta alternativa; e o ensaio multimeios de Tiago Coelho, pela obra O Marketing, que propõe um jogo de estereótipos que documenta, por meio de retratos, os personagens que estão por trás de placas e cartazes de rua. Cada personagem foi retratada em seu próprio ambiente, depois de ter seu anúncio registrado no contexto urbano. A gravação dos áudios aconteceu um ano após os retratos serem captados, por meio de chamadas telefônicas para os números presentes nos anúncios.
Além dos bolsistas premiados em 2017, a mostra apresenta o resultado do Prêmio Brasil Fotografia Bolsa para Desenvolvimento de Projeto 2016: Um deles foi para Dirceu Maués, pelo projeto [in]certa paisagem: imaginário de luz e prata. O artista aborda a paisagem partindo de experimentações com quimigramas (pintura/desenho químico sobre material foto-sensível). No papel impregnado de luz e portanto carregado de uma incrível potência de sombra e escuridão surge uma paisagem com imaginário de luz e prata. Explora a paisagem considerando esse jogo entre ficção e realidade.
O outro foi para Leo Caobelli, pelo projeto Acesso Permitido. Traduz-se numa ‘arqueologia de hard drives’ em que identificou a destinação do lixo tecnológico brasileiro. O processo de apropriação se deu em galpões de reciclagem de lixo eletrônico, em capitais do Brasil e Lagos, na Nigéria (destino do lixo tecnológico dos países desenvolvidos), onde se materializa a obsolescência programada – toneladas de material tecnológico descartados como sucata. Entre tantas peças, sua busca se restringe aos discos rígidos, componente da informática responsável pelo armazenamento de dados. Nele emergem os pequenos oásis de fatalidade perdidos: fotografias e vídeos de férias, celebrações, nascimentos, ritos dos mais diversos, além de pornografia, música, textos, documentos, a vida digital do mundo contemporâneo
Serviço:
EXPOSIÇÃO DO PRÊMIO BRASIL FOTOGRAFIA 2017
De 17 de agosto a 8 de outubro de 2017.
Local: Espaço Cultural Porto Seguro, no Espaço Expositivo 2º Subsolo.
Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, 610. Campos Elíseos. São Paulo.
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 19h e domingos, das 10h às 17h.
Classificação etária: livre.
Ingressos: grátis.
Visitas mediadas: de terça a sábado das 10h às 18h. Domingos, das 10h às 14h.
Agendamento: [email protected]