Vera Valente debate modelos de assistência com ex-ministro da Saúde daquele país
Com modelos diferentes, Brasil e Colômbia contam com a parceria entre os sistemas público e privado para aumentar e melhorar o acesso à saúde da população. Aqui, contamos com a saúde suplementar atuando de maneira complementar ao SUS, enquanto lá empresas de seguro são o principal instrumento para a cobertura obrigatória. Em ambos os casos, quanto maior a integração, maiores os benefícios para a população.
“Ambos os sistemas seguem os ditames da Organização Mundial de Saúde (OMS) no sentido de que a saúde é tida como direito social universal e requer subsídios aos mais pobres”, afirmou Vera Valente, em debate com Juan Pablo Uribe, ex-ministro da Saúde colombiano durante o painel “A saúde na Colômbia e seu modelo de financiamento”, promovido pelo FIS (Fórum de Inovação Saúde), na noite desta terça-feira (9).
O ex-ministro salientou que, mesmo com subsídios do Estado, o cidadão tem liberdade para escolher qual operadora privada de plano de saúde quer contratar na Colômbia. “Com o sistema, a cobertura lá chega a 97% da população”, relatou.
No modelo colombiano, quem tem emprego formal paga os planos por meio de impostos arrecadados na folha de pagamentos. No caso dos mais pobres, o Estado é responsável diretamente pelas mensalidades.
Tanto o Estado brasileiro como o colombiano sofrem com subfinanciamento crônico, sobretudo na área de saúde. Daí a importância da iniciativa privada. “Acesso à saúde é o desafio de todos os países no mundo. O financiamento é como encontrar mais acesso de qualidade à população. Aqui no Brasil, cada paciente que se vale de tratamento no sistema particular deixa de onerar o SUS”, disse Vera.
No Brasil, por mais fundamental que tenha sido na pandemia e mesmo no enfrentamento das demais doenças, o SUS ainda enfrenta muitas dificuldades. Por exemplo, o gasto anual por habitante do nosso sistema público é de apenas R$ 1.400.
Já no ano que vem o orçamento da União para a saúde será cerca de R$ 38 bilhões menor que o deste ano, quando considerados também os gastos adicionais com a pandemia até agora. A Colômbia passa por situação estrutural comparável em termos de insuficiência de recursos.
“Nossa tarefa comum é estarmos preparados para um cenário com maior demanda por saúde e menor capacidade do Estado de atender a população por meio dos sistemas públicos. Tudo isso em meio a custos crescentes, um dilema da saúde em todo o mundo”, afirmou a diretora executiva da FenaSaúde.
Brasil e Colômbia também exibem semelhanças em relação ao envelhecimento populacional, à maior longevidade e à incorporação de tecnologias mais caras. Por isso, para Vera Valente o desafio da ampliação do acesso precisa ir além da questão financeira. “Passa também por rever gestão, rever assistência, priorizar valor em saúde e foco no paciente”.
Também participaram do debate o presidente do Grupo Fleury, Carlos Marinelli, o superintendente-executivo do Hospital da Criança de Brasília e presidente do Ibross (Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde), Renilson Rehem. O evento integra o congresso “Repensando a Saúde Brasileira”, promovido pelo FIS.