Hospital Pequeno Príncipe priorizou consultas para crianças e adolescentes com doenças crônicas oriundas do Sistema Único de Saúde
Se por um lado a pandemia do coronavírus trouxe inúmeros desafios e sofrimentos para a sociedade, também acelerou alguns processos benéficos para a população, entre eles o uso da tecnologia na saúde. No maior hospital exclusivamente pediátrico, médicos de 15 especialidades passaram a atender os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) à distância. Com suporte da plataforma Global Health, o Serviço de Telessaúde do Hospital Pequeno Príncipe, com sede em Curitiba, foi implantado no início de 2021 para atender a parcela da população que mais necessita de acesso à saúde. Em 2020, o acompanhamento foi feito de forma alternativa.
De acordo com a médica que coordena o serviço, Rafaela Wagner, os acompanhamentos regulares de pacientes com doenças crônicas atendidos pelo Pequeno Príncipe sofreram forte impacto durante o período de pandemia, como resultado da dificuldade de acesso e restrição a consultas presenciais. O que por sua vez, acarretou na dificuldade de prevenção de piora clínica e um controle menos rigoroso desses pacientes. “Ouvimos o relato de diversos pacientes do SUS que não estavam mais conseguindo chegar até o Hospital. Seja porque o transporte não está mais sendo oferecido, seja pela suspensão temporária das consultas presenciais por determinação das autoridades de saúde. Essa população precisava com urgência de uma atenção nesse sentido”, explica a pediatra.
Atento às necessidades de seus pacientes e familiares, o Pequeno Príncipe iniciou os atendimentos por aplicativos de mensagens instantâneas, como whatsapp, e adotou uma metodologia e prática visando à segurança necessária para a prestação de assistência. Segundo a coordenadora do Serviço, a plataforma utilizada nas consultas oferece algumas condições que são essenciais para a prática correta e segura da telemedicina, como uma boa qualidade de som e imagem, o sigilo a que o paciente tem direito na consulta e no compartilhamento de dados, além da prescrição segura dos medicamentos necessários.
Entre fevereiro e junho deste ano, foram realizadas 490 consultas de telemedicina. Os números demonstram a boa aceitação da nova prática, tanto por médicos como pelas crianças e os adolescentes e seus familiares. Para o paciente ser atendido dessa forma, é necessário ter um celular com câmera e acesso à internet. “Imaginávamos que teríamos mais dificuldade nesse sentido, mas os pacientes que não têm acesso à internet estão recorrendo a outros familiares, vizinhos e até mesmo aos postos de saúde de suas cidades, e com isso estão conseguindo uma boa conexão para realizar as consultas”, relata a enfermeira do Serviço de Telessaúde, Deyse Anne Barbosa de Paulo.
Acolhimento, mesmo a distância
“O teleatendimento nesse momento de pandemia é uma ótima alternativa para podermos passar pela consulta e tirar dúvidas. O médico pode avaliar o paciente, que vai estar protegido dentro de casa. Outra forma seria se deslocar até hospital, se expondo ao vírus, ou ficar sem a consulta, mas muitas vezes surgem dúvidas sobre o tratamento que só conversando com o médico responsável para esclarecer”, diz Nanci Cristina Rega, mãe dos gêmeos Lucas e Luan, de 13 anos, pacientes da ortopedista Ana Carolina Pauleto.
A médica conta que as consultas à distância acabam sendo até mais longas do que as presenciais. “Eu converso bastante, para eles se sentirem bem atendidos. Consigo pedir para os pais mostrarem os movimentos que preciso avaliar. E quando sinto necessidade de uma consulta presencial, oriento a família nesse sentido”, explica.
O neurologista Daniel Almeida do Valle também integra o time de médicos da telemedicina e lembra que com a tecnologia foi possível retomar o contato com pacientes que estavam sem acompanhamento. “Como somos um centro de referência, atendemos muitos pacientes de outras cidades e até de outros estados. São crianças e adolescentes que tinham dificuldade para retornar presencialmente, especialmente a partir do início da pandemia, e que conseguimos resgatar com a telemedicina”, ressalta.
Valle diz acreditar que a telemedicina veio para ficar. “Esta tecnologia facilitou muito o acesso dos pacientes ao atendimento. Ela não substitui a consulta presencial, que continua sendo necessária em muitas situações. Mas em alguns casos, mostra-se muito eficiente, contribuindo para facilitar o acesso, reduzir deslocamentos, diminuir o tempo de espera e vários outros custos”, analisa.
“Começamos pela parcela da população que mais necessita de acesso à saúde. É nossa responsabilidade democratizar o acesso à telemedicina, bem como entender suas aplicações, visando à segurança do paciente e à integralidade de seu cuidado”, reforça o diretor técnico da instituição, Donizetti Dimer Giamberardino Filho, ao explicar a escolha pelos pacientes do SUS para início do trabalho.
Em junho, a prática da telemedicina adotada pelo maior hospital exclusivamente pediátrico passou a ser oferecida de forma piloto também para pacientes atendidos na modalidade particular.