Coface prevê crescimento de 0,4% para o PIB brasileiro

Coface prevê crescimento de 0,4% para o PIB brasileiro

Segundo Patrícia Krause, economista-chefe da Coface América Latina, inflação segue como uma das principais preocupações no país

A Coface ajustou a sua projeção para o desempenho da economia brasileira em 2022. A previsão agora é de um crescimento de PIB de 0,4% neste ano, ante expectativa anterior de estabilidade.

“Tivemos no começo de março a divulgação do PIB do ano passado, uma alta de 4,6% e um quarto trimestre um pouco melhor, uma expansão de 0,5%, em relação ao trimestre anterior, levando a economia ao nível 0,5 acima do patamar pré-pandêmico do quarto trimestre de 2019. Isso acabou gerando também um carregamento estatístico de 0,3%. Isso quer dizer que mesmo que a economia ficasse constante nos quatro trimestres deste ano, teríamos uma alta de 0,3%, o que nos levou a melhorar um pouco a estimativa do PIB, de estabilidade para uma alta de 0,4%”, afirmou Patrícia Krause, economista-chefe da Coface América Latina, durante a apresentação sobre a “Atualização do contexto macroeconômico global”.

No entanto, segundo a economista, a preocupação com a inflação segue relevante. Na sua avaliação, embora o IPP em 12 meses (índice de preço ao produtor) tenha mostrando uma desaceleração nos últimos meses, a alta de preços das commodities pode pressionar novamente o indicador. “O que alivia um pouco é a situação do câmbio, mas ainda sim as altas de preços de commodities no mercado internacional são bastante expressivas”, disse.

Patrícia destacou que a taxa de juros real positiva tem ajudado o desempenho do câmbio junto com o aumento de preço das commodities. Segundo ela, esse cenário, aliado à queda de mais de 10% na Bolsa em 2021- o que deixou os ativos brasileiros mais atrativos para o investidor estrangeiro – contribui para a entrada de fluxo de investimento de curto prazo.

“É claro que o câmbio é sempre uma variável muito volátil. É um cenário muito incerto, é difícil saber se o câmbio vai se apreciar ainda mais. No segundo semestre, a gente tem alguns fatores adicionais de risco; então pode haver um viés de depreciação novamente”, ponderou.

Entre os fatores de risco, a economista destacou a condução da política monetária dos países desenvolvidos, principalmente o comportamento do Fed, e as eleições presidenciais no Brasil. “Sabemos que a situação fiscal do país é um calcanhar de Aquiles. Então, no segundo semestre, com a discussão de planos para a consolidação fiscal, podemos sentir uma volatilidade maior na taxa de câmbio”, acrescentou.

Cenário global de estagflação

Patricia também falou dos impactos da guerra entre a Rússia e Ucrânia na economia global, que completou um mês na última semana. “A situação deteriorou-se muito e é difícil estimar possíveis resoluções e quando serão tomadas. Agora, começa uma nova rodada de negociação na Turquia”, comentou.

Para a economista, as sanções impostas à Rússia foram mais severas que as esperadas – proibição de exportações, desconexão com o sistema SWIFT, congelamento das reservas -, o que acaba isolando o país.

“De um modo geral, o impacto é de queda na atividade econômica global e de alta da inflação. Se no começo do ano, já discutíamos a preocupação com a inflação no Brasil e no cenário global, ela ganhou ainda mais força por conta de a região Rússia – Ucrânia ser grande produtora de commodities energéticas, agrícolas e minerais e possíveis novas interrupções nas cadeias de suprimentos. Aí, vem o receio do cenário de estagflação, caracterizado por baixo crescimento do PIB e inflação elevada, levando os Banco Centrais a repensarem suas políticas de taxas de juros”, explicou.

Diante do cenário imposto pela guerra, a Coface projeta que o crescimento da economia mundial desacelere para 3,6% em 2022, após uma alta de 5,6% estimada no ano passado. Segundo Patrícia, há ainda um viés de baixa por não ser possível saber por quanto tempo se estenderá o conflito.

No caso dos Estados Unidos, a taxa de expansão do PIB deve cair de 5,6% em 2021 para 3,7% neste ano. A China terá uma desaceleração de 8,1% para 5,2%, no período.

Para a Zona de Euro, região fortemente impactada pelas tensões geopolíticas, o crescimento econômico previsto pela Coface é 2,8% em 2022, ante os 4% estimados inicialmente. Segundo a economista, há vários canais de contágio na região, como o poder de compra impactando consumo das famílias, interrupções nas cadeias de suprimentos e sanções da Rússia, deterioração do sentimento econômico reduzindo os investimentos e a falta de grandes estímulos fiscais. “O impacto, médio, estimado é de uma queda de 1,2 p.p. para a taxa de crescimento e uma alta de 1,8 p.p. para a inflação em 2022. No grupo de países com maiores revisões de perspectiva de crescimento, temos o caso da Alemanha e da Itália por conta da maior dependência do gás natural da Rússia, em comparação com outros países”, acrescentou.

Já a América Latina não será poupada pela guerra, mas deve ser relativamente menos afetada. Segundo a economista, o fluxo comercial entre os dois países e o mercado latino-americano é pequeno. Rússia e Ucrânia representam apenas 0,5% e 0,04%, respectivamente, do total das exportações da região. No caso das importações, as fatias são de 0,4% e 0,03%.

“Além de esses países não serem tão representativos, tem o fato da região ser beneficiada pela alta dos preços das commodities, que não devem ter grandes dificuldades de realocação para outros mercados. Já nas importações o que chama atenção é a forte dependência de fertilizantes, do total importado pela América Latina da Rússia, 48% são fertilizantes. No Brasil, há uma preocupação do Ministério da Agricultura e negociações com Canadá. Há indicativos também que teremos um maior volume do Canadá, embora não seja claro se isso possa ser suficiente para a próxima safra”, completou.