Caio Megale, economista-chefe da XP, comenta a ata do Copom
“O Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou na manhã de hoje a ata referente à reunião de maio. Em nossa avaliação, o conteúdo da ata foi neutro em relação ao comunicado. O Comitê reiterou a necessidade de “cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade” (p. 21), em linha com o cenário de que o ciclo de aperto monetário está encerrado ou muito próximo do fim.
O Copom apresentou elementos que indicam que a política monetária restritiva “já tem contribuído e seguirá contribuindo para a moderação de crescimento” (p. 9). Tal constatação sustentaria a decisão de fazer uma pausa, adotando uma postura de aguardar e observar. Ao mesmo tempo, a ata destacou que “os vetores inflacionários seguem adversos” (p. 18). Nesse contexto, um ajuste adicional na reunião de junho pode ser adequado, dependendo das informações que vierem a público até lá.
As projeções de inflação do Comitê permanecem acima da meta nos horizontes relevantes, conforme já havia sido indicado no comunicado pós-reunião. A ata, no entanto, trouxe um detalhamento maior sobre o balanço de riscos (p. 16). Fica evidente que os membros consideram esse balanço “menos assimétrico” do que anteriormente, embora não haja consenso sobre sua neutralidade. Em nossa visão, qualquer risco assimétrico em um cenário cuja projeção já está acima da meta mantém aberta a possibilidade de um aumento adicional da taxa de juros.
Um fator importante no balanço de riscos é o cenário externo (p. 7). O comitê apontou o risco de menor crescimento e pressões inflacionárias mais elevadas nos Estados Unidos, além da recente queda nos preços das commodities. Esse ambiente “com incerteza muito maior” exige que os bancos centrais adotem uma postura cautelosa, com foco na ancoragem das expectativas. Considerando que o cenário externo parece ter melhorado desde a reunião — com valorização do dólar americano e alguma recuperação nos preços das commodities —, os membros do Copom podem estar hoje menos confiantes quanto à atuação das forças desinflacionárias globais do que estavam no momento da redação da ata.
Em suma, mantemos a avaliação que fizemos após a reunião do Copom, na semana passada: o plano atual do Comitê parece ser manter a taxa Selic inalterada nas próximas reuniões, ainda que sem um compromisso firme nesse sentido. A flexibilidade continua sendo essencial. Acreditamos que as pressões inflacionárias domésticas — incluindo medidas fiscais recentes de estímulo ao crescimento e expectativas de inflação desancoradas — acabarão por convencer o Copom a realizar um último aumento de 0,25 p.p. em sua próxima reunião.”
Foto: Caio Megale, economista-chefe da XP