Por Rodrigo Zuini, CTO da Picsel*
O agronegócio brasileiro é um dos maiores motores da nossa economia. Em 2025, o setor alcançou a marca de 82 bilhões de dólares em exportações no primeiro semestre, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária, confirmando seu protagonismo na balança comercial brasileira. No campo, tecnologias como sensores, satélites e algoritmos já ajudam o produtor a tomar decisões mais assertivas.
No entanto, essa revolução digital ainda não chegou plenamente a um componente essencial da segurança financeira rural: o seguro agrícola. Enquanto o agro se torna cada vez mais tecnológico, o seguro rural segue operando sob lógicas analógicas, pouco responsivas e desconectadas da realidade do campo. Essa defasagem compromete a proteção dos produtores e representa um obstáculo à competitividade do setor.
A cobertura do seguro rural no Brasil permanece estagnada, atingindo apenas 14 por cento da área agrícola, de acordo com dados da Agrolink. Nos Estados Unidos, esse índice ultrapassa os 90 por cento. Essa discrepância se explica por fatores como a instabilidade nos subsídios públicos, que sofreram corte de 445,1 milhões de reais em 2025 segundo a Globo Rural, além da lentidão burocrática e modelos de precificação genéricos. Esses problemas tornam o seguro caro, ineficiente e pouco atrativo. O resultado é uma adesão limitada, especialmente entre os pequenos e médios produtores, que ainda enxergam o seguro mais como um custo do que como um investimento.
Para mudar esse cenário, é necessário reposicionar o seguro rural como ferramenta estratégica de gestão, e não apenas como obrigação contratual. A transformação depende da adoção de tecnologias como inteligência artificial, sensoriamento remoto, big data, internet das coisas e agrometeorologia. Essas inovações permitem calcular riscos com precisão, personalizar apólices e monitorar propriedades em tempo real. A Picsel já atua nesse sentido com uma plataforma proprietária baseada em dados históricos e monitoramento por satélite. Em nossos pilotos, observamos aumento de 13 por cento no prêmio segurado, redução de 20 por cento na sinistralidade e uma queda de 66 por cento no tempo de execução das atividades operacionais.
Alguns ainda argumentam que a digitalização do seguro rural é complexa, cara e distante da realidade de grande parte dos produtores. Esse raciocínio ignora que o custo da inércia é ainda maior. A ausência de inovação mantém o setor exposto a perdas não indenizadas, instabilidade financeira e exclusão de perfis que mais precisariam de proteção. Além disso, a tecnologia, quando bem aplicada, simplifica processos e reduz custos operacionais. Um exemplo é a personalização das apólices, que permite que cada produtor contrate uma cobertura feita sob medida para sua cultura, região e histórico, pagando de forma justa pelo risco real da sua operação.
O maior entrave à modernização não está na tecnologia, mas na cultura e na estrutura das seguradoras. A maioria ainda classifica riscos por município, desconsiderando as especificidades de cada propriedade. Isso contrasta com a realidade digital do campo, onde já se opera com precisão até o nível do talhão. Os produtores mais tecnificados, que hoje utilizam softwares de gestão agrícola, drones e imagens de satélite no dia a dia, certamente vão demandar soluções de proteção compatíveis com esse padrão. As seguradoras que não evoluírem para modelos mais inteligentes e flexíveis perderão competitividade ou até mesmo relevância.
Nesse contexto, as insurtechs desempenham um papel decisivo. Em 2025, o setor atraiu 449 milhões de reais em investimentos, conforme levantamento da Insurtech.com.br. A Picsel se destaca ao oferecer uma plataforma que integra IA, big data e sensoriamento remoto. Com isso, conseguimos não apenas acelerar processos, mas oferecer uma proteção mais eficaz e adaptada às necessidades do produtor. A tecnologia permite criar um gêmeo digital da lavoura, prever perdas antes que aconteçam e responder de forma ágil em caso de sinistros. Essa mudança de paradigma não é futurista, é prática e está acontecendo agora.
A transformação do seguro rural é urgente. Em um cenário de eventos climáticos extremos, proteger a produção agrícola significa proteger a economia do país. Isso exige um redesenho completo do sistema de seguros, com base em tecnologia, dados e inteligência. O agronegócio brasileiro já é referência mundial em produtividade e inovação. Está mais do que na hora de o seguro rural acompanhar esse ritmo. Se o agro é cada vez mais tecnológico, é imperativo que sua proteção evolua na mesma velocidade.
*Rodrigo Zuini é CTO da Picsel, com mais de 20 anos de experiência em tecnologia, dados e transformação digital. Atuou globalmente em projetos de larga escala e liderou times de alta performance em empresas de diversos setores.
