Análise de Marco A. J. Caruso e Lisandra Barbero, economistas do Banco Original
Sinalizando a mensagem de recuperação gradual do mercado de trabalho brasileiro, a taxa de desemprego divulgada pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (PNAD Contínua) permaneceu em 14,7% no trimestre encerrado em abril (o equivalente a um incremento de 13,8% para 14,1% na série livre de efeitos sazonais).
Ainda que a ocupação tenha melhorado marginalmente 0,28% m/m no período, o aumento da taxa de desemprego refletiu, especialmente, o aumento em ritmo mais acelerado (em 0,65% m/m) da força de trabalho (ou seja, refletiu a procura por novas ocupações em ritmo mais acelerado do que a oferta de novos empregos). Essa já era uma tendência esperada para esse ano, uma vez que a taxa de desemprego de 2020 acabou sendo “suavizada” de certa forma pelo fato de muitos indivíduos terem saído da população economicamente ativa e migrado para o desalento (reflexo do impacto da pandemia sobre as atividades informais, das restrições à circulação e do pagamento do auxílio emergencial).
Olhando para frente, à medida em que avança a campanha de vacinação no país e a pandemia dá sinais graduais de melhora, esperamos uma volta ainda mais acelerada da força de trabalho (ou seja, um aumento significativo do número de indivíduos que não estavam dispostos a procurar por um novo emprego e que agora estão). O pagamento do auxílio emergencial em menor alcance e magnitude do que fora pago em 2020 corrobora esse entendimento, apesar de sinalizar que essa volta da força de trabalho pode acontecer de forma mais “diluída” e demorada do que poderia ser apresentado na ausência do auxílio nesse ano.
Importante observar que a maior taxa de crescimento da ocupação no trimestre encerrado em abril (quando comparado com o trimestre encerrado no mês imediatamente anterior) foi apresentada pelo setor de “alojamento e alimentação”, um dos setores mais fragilizados pela pandemia da Covid-19. A recuperação, ainda que gradual, dessa e de outras atividades do setor de serviços corrobora a expectativa de o setor se beneficie do ciclo de vacinação, da melhora da pandemia e da reabertura das atividades econômicas. Outros setores que apresentaram aceleração significativa no ritmo de contratação no mês foram: 1) informação e comunicação (+1,9% m/m), 2) outros serviços (+1,8% m/m), 3) serviços domésticos (+1,2% m/m) e 4) agricultura (+1,0% m/m).
O resultado também registrou uma melhora de 1,0% m/m da massa de renda real efetiva, que passou de 213,2 milhões (em reais do último mês) para aproximadamente 215,4 milhões no trimestre encerrado em abril, além de uma redução de 0,7% do número de desalentados (o que justifica o aumento da força de trabalho no período). Além disso, sinalizou mais um mês de recuperação do setor informal, com alta de 1,1% m/m do número de empregados no setor privado sem carteira de trabalho assinada no período.
Olhando para frente, esperamos que a taxa de desemprego ainda seja “prejudicada” pela volta mais acelerada dos indivíduos à força de trabalho. No entanto, a melhora gradual das estatísticas de renda e a recuperação dos setores informais (concentrados especialmente no setor de serviços) – à medida em que a pandemia melhora e a campanha de vacinação avança – corroboram o entendimento de o que o mercado de trabalho brasileiro deve dar continuidade ao processo de recuperação gradual observado nos últimos meses. Esperamos que a taxa de desemprego média de 2021 seja de 14,5%.