A Howden protagonizou uma operação de grandes riscos e fora do padrão, com uma solução totalmente inusitada, que ganhou repercussão mundial. Ancorado na costa do Iémen, o navio petroleiro FSO Safer permaneceu a bordo durante anos, contendo 1,14 milhão de barris de petróleo bruto leve, sem ser descarregado, devido ao conflito na região. Durante anos, autoridades da ONU alertaram que o Mar Vermelho e a costa do Iémen estavam em risco, já que o superpetroleiro estava sem manutenção desde 2015.
A Howden Londres foi, então, designada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), através de concurso público, a identificar os riscos seguráveis e garantir a cobertura do seguro para a transferência entre navios. Além de ser uma operação de alta periculosidade e de enorme disponibilidade financeira, nenhum empreiteiro estava disposto a correr esse risco em uma zona de guerra.
A localização do petroleiro em águas consideradas de alto risco pelo mercado de seguros tornou as negociações ainda mais complexas, com alguns agravantes: a deterioração da integridade estrutural do navio e o risco de explosão. David Howden, CEO do Grupo Howden, e diretamente envolvido em todo o processo, disse que “estava determinado a resolver o caso com sucesso, pois qualquer outra coisa poderia causar um desastre para o mundo”.
O navio abandonado
O petroleiro Safer flutua entre as costas do Iémen e da Arábia Saudita desde 1987, armazenando petróleo do Iémen para exportação. Em 2014, rebeldes que lutavam na guerra civil do Iémen impediram os trabalhos de manutenção no navio de 47 anos. Nos últimos sete anos, o casco de aço do navio sofreu uma corrosão perigosa, o que poderia afundar o petroleiro e inundar as águas de óleo, além de causar um dano ambiental no valor de U$ 20 bilhões e fechar as rotas marítimas do Canal de Suez.
Em 2017, o gerador do navio parou de funcionar, impossibilitando bombear gases inertes para dentro de suas câmaras – o que tornaria inofensivos os gases tóxicos e altamente inflamáveis emitidos pelo petróleo bruto. A ONU (Organização das Nações Unidas) gastou U$ 150 milhões em toda a operação até agora, grande parte vinda de doações. A Howden renunciou a sua taxa de corretagem.
A solução
O trabalho da Howden era convencer os subscritores a cumprir a tarefa. Reuniu arquitetos navais, especialistas em salvamento e engenheiros – muitos, inclusive, mobilizaram mergulhadores de águas profundas para fotografar a embarcação enferrujada e avaliar os riscos. As seguradoras só se comprometem com a cobertura quando os riscos são devidamente identificados e precificados no prêmio.
Como solução, a corretora montou uma rede de 13 entidades de subscrição diferentes, com mais de uma centena de subscritores envolvida na avaliação e precificação das apólices. A Howden ofereceu o seguro necessário para os corretores que foram ao navio tanque, no Mar Vermelho, terem segurança durante a ação. Dentre os 100 coretores envolvidos na avaliação, 13 concordaram em cobrir certos aspectos da operação.
Esse fracionamento permitiu que as seguradoras pudessem escolher a cobertura entre os nove riscos diferentes que compõem a apólice, inclusive os danos à carga, à embarcação e danos de guerra. A operação de resgate pode evitar um derramamento de quatro vezes mais óleo do que o desastre do Exxon Valdez, em 1989, no Alaska. Segundo David Howden, “esse é um exemplo fantástico de como o seguro pode ser usado como uma força para o bem”.
O próprio PNUD chamou a operação de “Missão Impossível” e, segundo o administrador do PNUD, Achim Steiner, em comunicado, “oseguro tornou-se um elemento crítico para possibilitar que a operação de resgate prossiga. Sem ele, a missão não pode avançar”.
De acordo com Márcio Dias, diretor de Marine, Cargo e Logística da Howden Brasil, “no caso do petroleiro Safer, além do risco eminente de um dano ambiental de grandes proporções também está em jogo o enorme impacto econômico pela possibilidade de fechar as rotas marítimas do Canal de Suez. Essa é uma das vias navegáveis mais movimentadas e importantes do mundo e considerada a porta de entrada para a movimentação de mercadorias entre a Europa e a Ásia – o que representa 12% do comércio mundial. Embora seja uma rota que não está interligada ao Brasil, a economia brasileira poderia ser impactada em função do frete internacional”, ressalta o especialista.
O executivo ressalta ainda que, para os seguros marítimos, é importante ter o seguro P&I (Protection and Indemnity), que fornece cobertura para responsabilidade civil relacionada às operações marítimas, incluindo danos a terceiros, ferimentos ou mortes de tripulantes, poluição marinha e outros riscos associados. O seguro P&I ajuda a garantir que as empresas tenham os recursos necessários para cobrir custos associados à limpeza e recuperação do meio ambiente em casos de poluição e outros eventos imprevistos.
A cobertura mundial da imprensa mostra o quanto esse projeto é importante para o mundo, além de levar o poder do seguro para novos públicos. Esse é um exemplo de transferência e mitigação de riscos, além de mostrar que a ousadia, aliada ao conhecimento técnico e às boas alianças, proporcionam soluções inimagináveis.