Por Gustavo Ferraz, especialista em investimentos na WIT Invest

• Como você avalia o comportamento do mercado financeiro brasileiro em julho?

Em julho, o mercado financeiro brasileiro recuou cerca de 4,8%, com o Ibovespa pressionado pela deterioração do cenário externo e fiscal. O principal impacto veio do anúncio dos EUA de tarifas de até 50% sobre US$ 175 bilhões em exportações brasileiras, afetando setores como agronegócio, aviação e siderurgia. A inflação acumulada chegou a 5,3%, levando o Banco Central a manter a Selic em 15% e reforçar o tom contracionista. A dívida pública subiu para 78,2% do PIB e o déficit fiscal projetado passou de R$ 100 bilhões. Diante disso, investidores adotaram postura defensiva, e o FMI reduziu a previsão de crescimento para 2,4% em 2025.

• Quais foram os principais fatores internos e externos que influenciaram o desempenho da Bolsa de Valores no mês?

Em julho, o desempenho da Bolsa brasileira foi afetado por fatores externos e internos, resultando em queda de 4,8% no Ibovespa. No exterior, o destaque foi a imposição de tarifas de até 50% pelos EUA sobre US$ 175 bilhões em exportações brasileiras, atingindo setores como agronegócio e aviação. Internamente, a inflação acumulada de 5,3% e a manutenção da Selic em 15% pressionaram o consumo e os investimentos. O risco fiscal aumentou com a dívida pública em 78,2% do PIB e déficit superior a R$ 100 bilhões.

• Houve setores que se destacaram positivamente ou negativamente no Ibovespa? Por quê?

Em julho, empresas de energia e com bases nos EUA, como GGBR4 e CSNA3, se beneficiaram por conta da taxação, já no campo negativo temos algumas empresas do varejo e, principalmente, empresas com alta exportação para os Estados Unidos.

• Quais são as suas expectativas para o desempenho do Ibovespa e da economia brasileira em agosto?

Em agosto, o Ibovespa deve seguir volátil, oscilando entre 130 mil e 135 mil pontos, com viés de baixa caso persistam as tensões comerciais com os EUA. A economia brasileira continua pressionada por juros elevados (Selic a 15%) e inflação acima da meta (cerca de 5%). O cenário fiscal instável e conflitos entre governo e Congresso aumentam a cautela dos investidores. Setores domésticos podem mostrar resiliência, mas exportadores seguem sob pressão. O mercado adota postura de espera, atento a possíveis desdobramentos nas tarifas e sinalizações econômicas.

• Há espaço para otimismo ou o investidor deve adotar uma postura mais cautelosa no curto prazo?

No curto prazo devemos adotar uma postura mais cautelosa devido às tensões internas e externas, mas seguimos confiantes com a bolsa em médio/longo prazo.

• Quais indicadores econômicos e decisões políticas devem estar no radar do investidor em agosto?

Com certeza devemos ficar de olho nos dados de inflação, mas principalmente como será o desenrolar das tarifas americanas e o risco fiscal. Outro ponto de atenção é que uma maior impopularidade do governo atual pode gerar maior esperança de um governo mais de direita, tendo maiores chances na eleição do próximo do ano e sendo benéfico para o mercado.

• A partir de 1º de agosto, os EUA passam a implementar tarifas comerciais sobre diversos produtos brasileiros. Como essa medida pode afetar diretamente a economia nacional? Quais setores da economia brasileira tendem a ser mais impactados?

A partir de 1º de agosto, as tarifas dos EUA sobre produtos brasileiros devem reduzir exportações, impactando receita e empregos no país. Os setores mais afetados serão o agronegócio (soja, carne, café), indústria aeroespacial (Embraer), mineração e siderurgia. Essa medida pode enfraquecer o real e aumentar a inflação. A economia pode desacelerar, pressionando crescimento e gerando necessidade de políticas compensatórias. A diversificação dos mercados externos torna-se essencial para minimizar os impactos.

• A taxação comercial dos EUA pode gerar algum tipo de resposta por parte do governo brasileiro? Existe risco de retaliação comercial?

O governo brasileiro demorou para levar a sério, mas parece estar começando a atuar e deve responder às tarifas dos EUA com negociações diplomáticas, medidas compensatórias e incentivos internos para os setores afetados. Pode impor tarifas retaliatórias para equilibrar a balança comercial, mas acredito que seja difícil ter poder contra os Estados Unidos.

• Qual o impacto da taxação comercial no câmbio, na inflação e na percepção de risco do Brasil?

A taxação comercial dos EUA tende a pressionar o câmbio, provocando desvalorização do real devido à saída de dólares pela queda nas exportações e menor entrada de capital estrangeiro. Isso pode elevar os preços de importados e insumos, contribuindo para alta da inflação. Além disso, a medida aumenta a percepção de risco do Brasil no mercado internacional, elevando custos de financiamento e reduzindo o apetite por investimentos em renda variável e dívida local, gerando maior volatilidade e cautela dos investidores.

• Qual deve ser a postura do investidor diante desse cenário de incertezas e possíveis turbulências comerciais?

Diante desse cenário de incertezas e turbulências comerciais, o investidor deve adotar uma postura cautelosa e diversificada. É recomendável reduzir exposição a ativos mais sensíveis a riscos externos, como ações de exportadoras e commodities, e buscar proteção em setores mais defensivos, como bancos e energia. Além disso, diversificar investimentos entre renda fixa, fundos multimercados e até ativos internacionais pode ajudar a mitigar riscos. Manter liquidez para aproveitar oportunidades e acompanhar de perto notícias econômicas e políticas também é fundamental para ajustar a carteira conforme o cenário evolui.

• Há algum tipo de ativo ou setor que parece mais defensivo ou promissor para agosto?

Para agosto, setores defensivos como bancos, energia (Petrobras) e varejo devem se destacar, beneficiados por juros altos e consumo interno estável. Fundos imobiliários (FIIs) também oferecem proteção e rendimentos consistentes. Essas opções tendem a apresentar menor volatilidade frente às incertezas comerciais.

Gustavo Ferraz, especialista em investimentos na WIT Invest