Nova edição do levantamento da ENS mostra avanços na inclusão feminina, mas evidencia desafios estruturais que limitam a presença de mulheres nos altos cargos do setor de seguros
A Escola de Negócios e Seguros (ENS) divulgou a 5ª edição do estudo “Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil”, que revela dados atualizados sobre a presença feminina no setor e os principais entraves à equidade de gênero. O levantamento confirma uma tendência já conhecida: as mulheres são maioria nas seguradoras, representando 55% da força de trabalho. No entanto, a ocupação de cargos de liderança ainda é significativamente desigual.
De acordo com o estudo, apenas 7% das mulheres entrevistadas ocupam cargos de gerência ou superintendência, enquanto 1% está em posições de diretoria. A desproporção entre homens e mulheres em funções de liderança chega à razão de 1,5 homem para cada mulher nessas posições. Esses números apontam para a persistência de um teto de vidro que impede muitas profissionais de avançar em suas carreiras.
Avanços percebidos, mas com ressalvas
Apesar dos obstáculos, há sinais de evolução. 63% das mulheres entrevistadas acreditam que as oportunidades de crescimento profissional para mulheres melhoraram nos últimos três anos. Essa percepção é reflexo do aumento de discussões internas sobre diversidade, bem como da implantação de iniciativas voltadas à inclusão.
Entre os principais fatores que contribuem para o avanço feminino no setor estão o apoio da liderança, a valorização da diversidade e a implementação de ações específicas de equidade de gênero, como programas de desenvolvimento e incentivo à liderança feminina.
Maternidade e sobrecarga: entraves silenciosos
A maternidade continua sendo um divisor de águas na trajetória de muitas profissionais. Mais de dois terços das mulheres entrevistadas (67%) afirmam que ser mãe impacta negativamente suas carreiras, seja pela redução de oportunidades, estagnação no crescimento ou preconceito velado. A sobrecarga mental e a falta de políticas corporativas que favoreçam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional foram apontadas como fatores limitantes.
Além disso, o estudo evidencia que as estruturas organizacionais nem sempre acompanham as mudanças sociais. A jornada dupla ainda recai, em sua maioria, sobre as mulheres, o que limita sua disponibilidade para assumir funções que exigem maior dedicação ou viagens, por exemplo.
Baixa representatividade racial reforça necessidade de ações interseccionais
Outro ponto levantado pela pesquisa é a baixa diversidade racial entre as mulheres do setor. A maioria das respondentes se autodeclarou branca (75%), o que reforça a necessidade de estratégias que contemplem também a inclusão de mulheres negras, indígenas e de outros grupos minorizados. A interseccionalidade — ou seja, a análise das múltiplas camadas de desigualdade — ainda é um tema pouco tratado nas políticas de inclusão do setor.
Desafios e caminhos possíveis
O estudo da ENS é um importante termômetro sobre a equidade de gênero no mercado de seguros. Os avanços são inegáveis, mas o ritmo de transformação ainda é lento. Aumentar a presença feminina em cargos de liderança requer mais do que boa vontade: exige metas, mecanismos de accountability e transformação cultural.
A publicação do levantamento reacende o debate sobre o papel das empresas em promover ambientes mais justos, onde o talento feminino não apenas ocupe espaço, mas também tenha poder de decisão. O setor de seguros, tradicionalmente conservador, tem diante de si a oportunidade de liderar uma mudança estrutural com impacto real na sociedade e nos negócios.