Afinal, a quem interessa prejudicar a imagem do corretor de seguros?

Declarações e decisões polêmicas marcam gestão de Solange Vieira na Susep

Poucas vezes você viu este repórter compartilhar sua visão pessoal sobre o andamento do setor de seguros, mas o momento exige um posicionamento. Não é possível assistir, silenciado, os relevantes movimentos do segmento no Brasil diante das recentes decisões chanceladas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Se por um lado tecnologia e inovação caminham juntas, por outro, é preciso levar em consideração as pessoas – as verdadeiras protagonistas de qualquer transformação. É preciso debater e simplesmente ouvir aqueles que serão afetados por decisões que atingem o setor como um todo. Alvo de críticas por todo o segmento, a superintendente Solange Vieira promove um desserviço ao mercado ao demonizar o Seguro de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de via Terrestre (DPVAT) e desregulamentar os profissionais da corretagem de seguros. São apenas duas recentes situações que prejudicaram a imagem da instituição seguro diante da população.

As iniciativas por si só não são o verdadeiro problema, mas a falta de uma boa comunicação expõe a distância existente entre a autarquia e os próprios profissionais que fazem o dia a dia do setor. Foram diversas as situações em que a senhora superintendente evitou interagir com os agentes do mercado.

Mas afinal, a quem interessa prejudicar a imagem do corretor de seguros? As próprias companhias e seus executivos já deixaram claro em diversas oportunidades que o profissional da corretagem barateia a operação de distribuição – uma vez que fica dispensada a contratação e treinamento de uma equipe direta de vendas por parte das seguradoras.

Outro fato é que a grande maioria da frota de veículos que circulam pelas estradas brasileiras não possui seguro. As estimativas das companhias informam que mais de 70% dos carros não estão cobertos por uma apólice. Em um cenário de diminuição de renda, alto índice de desemprego e aumento no número de acidentes nas rodovias do País não faz sentido simplesmente querer extinguir o DPVAT. Mas “a corrupção era enorme”, justificou Solange Vieira. “Nosso mercado de seguros é concentrado e obsoleto”, acrescentou em recente entrevista. Pense você mesmo. Cabe a uma representante do setor fazer tais declarações ao público? Infelizmente sabemos que a corrupção está em quase todos os segmentos, mas isso justificaria – por exemplo – a extinção de programas como o Bolsa Família ou da própria Previdência Social por conta de desvios pontuais?

Por outro lado também faz-se necessário destacar a acertada decisão do Conselho Nacional de Seguros e Previdência (CNSP) em querer promover a abertura deste nicho de mercado. Isso claramente difere de simplesmente querer acabar esta importante modalidade de proteção.

Pense o quão prejudicial seria a efetivação de tal medida – que acabou barrada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os números de agosto de 2019 divulgados pela Seguradora Líder, consórcio que administra o Seguro DPVAT, demonstraram que mais de 77% das indenizações de acidentes no trânsito foram pagas a condutores de motocicletas. Já a Fundación MAPFRE divulgou recentemente o perfil dos motociclistas da cidade de São Paulo: a grande maioria trabalha sob duas rodas para o sustento da família. É preciso ter empatia e considerar o aspecto social propiciado pela proteção securitária como um todo. Isso sem falar nos repasses do DPVAT ao Sistema Único de Saúde (SUS) – entre 2008 e 2018 foram repassados R$ 33,4 bilhões. Outros R$ 3,7 bilhões foram destinados ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Por mais que a inovação sempre seja importante e muito bem vinda é preciso ter noção de que apenas o tecnicismo não será o suficiente para reforçar a base de consumo do seguro no Brasil. Este artigo expôs apenas algumas breves situações que não caíram nada bem no mercado de seguros – de modo que até mesmo renomados seguradores se posicionaram publicamente diante dos últimos acontecimentos. “Eu acredito sim que existem oportunidades para melhorar e muito os processos entre seguradoras, consumidores e corretores, mas eu acho importantíssimo que a Susep pare com essa demonização aos corretores de seguros, pois, num País sem cultura e com baixa educação, ninguém acorda querendo comprar seguros. Os corretores são agentes sociais. Protegem o patrimônio e o bem estar das famílias brasileiras, educando-as e sensibilizando-as para fragilidades que merecem coberturas específicas”, comentou o ex-presidente da Porto Seguro, Fábio Luchetti, em uma rede social.